Estilo de vida
21/11/2020 às 05:00•2 min de leitura
Na noite de 9 de outubro de 1963, a cidade de Longarone, no nordeste da Itália, sofreu a maior tragédia de sua história, quando o deslizamento de toneladas de rochas em uma montanha causou o transbordamento das águas da represa Vajont, resultando na morte de quase metade dos habitantes da pequena vila. Quase 57 anos depois, a história ainda é lembrada por muitos, reforçando um caso de negligência administrativa que poderia ter sido evitada, salvando a vida de centenas de inocentes.
Obra de engenharia realizada por Carlo Semenza, responsável pelo projeto em nome da companhia Società Adriatica di Elettricità (SADE), a barragem Vajont sofreu durante décadas para ser construída, sendo aprovada, inicialmente, por Benito Mussolini ainda durante a Segunda Guerra, mas formalizada apenas anos depois, com a injeção de dinheiro devido ao Plano Marshall de reconstrução europeia.
Com a conclusão das obras, em 1960, ela não demorou a ser internacionalmente reconhecida, surgindo como um marco na representação tecnológica e social, além de ser considerada a mais alta do mundo, possuindo cerca de 261 metros de altura e capacidade de armazenamento de 168 milhões de metros cúbicos. Porém, instabilidades geográficas causadas pelo estreito desfiladeiro estavam prestes a colocar todo o planejamento em risco.
Com a decisão por dar continuidade ao abastecimento da Vajont, a população das cidades vizinhas começou a temer pelo insucesso das obras, especialmente pelas lendas sobre a “montanha ambulante”, em que colapsos e deslizamentos regulares eram reportados no estreito desfiladeiro do Rio Piave. Infelizmente, a pressão não foi suficiente para tirar o monopólio da SADE, com habitantes e jornalistas passando a ser acusados de perturbar a ordem social.
A montanha passou a sentir o impacto das águas em poucos meses, registrando as primeiras rachaduras e chegando a causar um pequeno deslizamento, que foi simplesmente ignorado pelos engenheiros. Foi então que o contínuo enchimento acabou gerando a catástrofe e os primeiros sinais de queda de pedras e árvores culminou em uma devastadora tsunami, que carregou cerca de 50 milhões de metros cúbicos d’água em uma velocidade de 109 km/h.
No total, quase 2.500 mortes foram confirmadas, com aproximadamente metade da população de Langarone sendo dizimada, algo que levou o presidente da empresa que construiu a estrutura, o presidente do Conselho Regional de Obras Públicas e um engenheiro da SADE a seis anos de prisão, por motivos de negligência e homicídio culposo.
Atualmente, o desastre é catalogado pela UNESCO como uma das maiores tragédias ambientais causadas pela ação humana.