Estilo de vida
01/12/2020 às 10:00•3 min de leitura
Lançado em 1963, o filme Os Pássaros (The Birds), baseado na noveleta de Daphne du Maurier e dirigido pelo notório Alfred Hitchcock, se tornou um dos mais emblemáticos suspenses da época. Até hoje o longa-metragem é conhecido por ter incorporado elementos que inovaram a maneira de fazer cinema.
Contudo, a visão diferenciada do diretor, especialmente nesse filme, sempre esteve associada ao seu comportamento maníaco por trás das câmeras. Por incrível que pareça, o bastidor de Os Pássaros não foi considerados o pior de todos, porém foi o mais violento e preocupante.
O filme foi o responsável por lançar a carreira da estrela Tippi Hedren no cinema, depois que Hitchcock a viu em um comercial de televisão em que ela não tinha nenhuma fala. No entanto, em seu livro Tippi: A Memoir, lançado em 2016, a atriz revelou que, junto com o alfinete feito de ouro e pérolas no qual havia um par de pássaros em voo que lhe foi dado junto com seu contrato, vieram também os piores anos de sua vida.
Não demorou muito para que a atriz percebesse que o contrato não tinha a beleza do alfinete que ganhara. Tippi assinou um acordo em que Hitchcock seria dono de sua imagem por sete longos anos.
Para Os Pássaros, o diretor definiu jornadas de 18 horas diárias de gravações apenas com uma folga de tarde por semana. Conforme Tippi foi perdendo peso por excesso de trabalho, ela passou a receber todos os dias de Hitchcock cestas de pães com o bilhete “Coma-me”. Ela era obrigada a engolir cada um dos pães antes de deixar seu camarim, por vezes até sendo assistida pelo olhar intruso do homem.
Como se isso não fosse o suficiente, Hitchcock começou a assediar sexualmente a estrela de todas as maneiras possíveis. Eram abraços em que ele estava excitado, toques invasivos e beijos desnecessários. A situação chegou a um ponto tão alarmante que Tippi entrou em contato com Alma Reville, a esposa do homem, alertou-a sobre tudo e pediu para que ela o fizesse parar. Reville, no entanto, apenas foi embora sem dizer uma palavra.
Hitchcock orientou toda a equipe técnica de Os Pássaros que hostilizassem de maneira muito cruel e agressiva Tippi Hedren, para que seu medo e tristeza fossem mais “reais” diante das câmeras. A jovem atriz era agredida verbal e fisicamente, durante as gravações e nos bastidores, pelos seus colegas de profissão. A loucura do diretor chegou a tal ponto que ele resolveu machucar Tippi de verdade com a estrela principal do filme: os pássaros.
Hitchcock enganou a atriz alegando que os corvos usados durante a icônica cena do ataque do sótão eram mecânicos. Os pássaros foram soltos em direção ao rosto de Tippi, que foi gravada em total agonia. Ela sofreu graves ferimentos no couro cabeludo, nas bochechas e até nos olhos. Para que o take perfeito fosse gravado, ela teve que aguentar o sadismo do diretor durante cinco dias, até que sua força de vontade entrou em colapso quando um pássaro abriu um buraco em uma das pálpebras de seu olho.
A lesão provocou um colapso nervoso total na mulher, que foi afastada por ordens médicas por uma semana para que pudesse se recuperar. Ela sofreu tudo isso para que a terrível cena só fosse usada durante 1 minuto na edição final.
E como se isso não bastasse, Tippi teve um painel de vidro estourado a poucos centímetros de seu rosto durante as gravações da cena da cabine telefônica. Farpas e cacos de vidro tiveram que ser removidos da bochecha esquerda e do nariz da atriz.
Tippi Hedren sofreu por sete anos sob as ameaças de Hitchcock de que teria sua carreira destruída se não fosse submissa às suas ordens, além de ter que se calar com relação ao assédio sexual e fugir das investidas dele. Em seu livro, ela deixa claro que a violência no set de filmagens não foi nada em comparação ao que teve que aguentar calada por tanto tempo.