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26/02/2021 às 08:00•2 min de leitura
Em tempos de pandemia, quando as medidas de afastamento social reforçaram a condição de isolamento das pessoas, o primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, decidiu nomear para o seu gabinete um Ministro da Solidão, para revitalizar as economias regionais, elevar os índices de natalidade, mas principalmente, tentar reduzir as altas taxas de suicídio do país.
Inspirado no Reino Unido, que criou um cargo semelhante em 2018, Tetsushi Sakamoto passará a administrar uma questão que, após 11 anos, volta a preocupar o Japão: segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia, 20.919 pessoas cometeram suicídio no país em 2020, 750 a mais do que no anterior.
O primeiro-ministro Suga expressou ao novo ministro sua preocupação especial com as mulheres que, segundo ele, “estão se sentindo solitárias e com tendência ao suicídio”, recomendando políticas “abrangentes” contra a solidão. Suga reconhece que a pandemia teve um papel fundamental nesses números, pois obrigou idosos a ficarem presos em casa e estudantes universitários não poderem assistir aulas pessoalmente.
A Agência Nacional de Polícia do Japão ratificou as palavras do primeiro-ministro, informando que morreram mais pessoas por suicídio no Japão em outubro do ano passado do que as mortes por covid-19 no mesmo período.
No Japão, o isolamento é bem anterior à pandemia e está ligado a uma série de desgraças sociais, como a tendência ao suicídio, ao aumento da pobreza e aos “hikikomori”, os reclusos sociais por opção.
O conceito de solidão traz, na cultura japonesa, mais um complicador, pois o termo japonês para o fenômeno, “kodoku”, significa tanto “solidão” como “solitude”, como se ambas fossem uma coisa só.
Como a solitude é a escolha de ser sozinho e ser feliz com esta escolha, como acontece com os hikikomori, a limitação morfológica da língua levou ao surgimento de uma tendência a colocar o estado de kododu sob um aspecto positivo, sob uma ótica de autonomia e independência, conforme explicou o especialista em comunicação Junko Okamoto ao The Japan Times.
Okamoto afirma que essa visão glamourizada da solidão, ofuscou o outro sentido, mais perigoso e preocupante, do kodoku, fazendo com que a sociedade japonesa tenha se tornada alheia à “natureza verdadeiramente desesperada e dolorosa da solidão”.