'Chuta que é macumba!': origem da expressão e por que ela é crime

16/05/2021 às 05:002 min de leitura

Uma frase de deboche, "chuta que é macumba!", muitas vezes é falada pelas pessoas em tom de brincadeira sem atentar para o fato de que estão sendo extremamente preconceituosas e intolerantes com as religiões de origem africana, em especial o Candomblé e a Umbanda

Macumba (Fonte: Wikipedia/Reprodução)Macumba (Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Atribuído de forma pejorativa às duas religiões, o termo "macumba" é na verdade uma árvore africana e também o nome de um instrumento musical utilizado nas cerimônias de religiões afro-brasileiras, uma espécie de reco-reco. Isso significa que, descontado o preconceito, macumbeiro é o percussionista que toca esse instrumento.

O que é popularmente chamado de macumba são as manifestações dessas religiões que ocorrem fora dos templos: os chamados "despachos". Oferendas para o orixá Exu colocadas nas encruzilhadas, esses bens materiais ofertados são considerados como magia negra para prejudicar pessoas, mas é uma prática desestimulada por ambas as religiões.

A ameaça de um despacho (judicial)

Fonte: Superinteressante/ReproduçãoFonte: Superinteressante/Reprodução

As manifestações preconceituosas entre religiões são comuns no mundo todo, onde pessoas involuídas tentam impingir o seu deus ou deuses aos de outras pessoas. Só que, ao fazê-lo, estão infringindo uma lei, no caso a de nº 9459 de 13 de maio de 1997, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

De acordo com o artigo 1º da referida lei, serão punidos "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". Nesse caso, aquele que praticar, induzir ou incitar esse tipo de discriminação ou preconceito está sujeito a pena de reclusão de um a três anos e multa.

Manifestação contra a intolerância religiosa (Fonte: Fernando Frazão/Agência Brasil/Reprodução)Manifestação contra a intolerância religiosa (Fonte: Fernando Frazão/Agência Brasil/Reprodução)

Segundo a advogada Elane Souza, em artigo no site Jusbrasil, a intolerância e o preconceito começam muitas vezes como chacotas e zombarias dentro e fora das "reuniões de fé" e muitas vezes extrapolam o âmbito religioso, chegando às redes sociais e culminando em atos gratuitos de violência.

Em seu livro Intolerância religiosa, o professor e doutor em Semiótica e Linguística Geral Sidnei Nogueira explica que essas manifestações, geralmente rotuladas de "intolerância religiosa" constituem manifestações claras do racismo brasileiro. Fruto de "uma cultura cristã que gradativamente se imiscuiu na política institucional", a violência atinge as práticas afro-religiosas por pura ignorância sobre elas.

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