Artes/cultura
26/06/2021 às 12:00•2 min de leitura
Em 1944, os Estados Unidos se encontrou em meio a escassez de soldados capazes de gerenciar de maneira adequada o serviço postal do Exército americano no exterior, desmantelando pelo caos da Segunda Guerra Mundial.
Com a pressão dos jornais negros e da educadora Mary McLeod Bethune, pedindo por apoio da ex-primeira-dama Eleanor Roosevelt por um papel para as mulheres negras na guerra, o Corpo do Exército Feminino (WAC) – uma das divisões das Forças Armadas dos Estados Unidos – estabeleceu o 6888º Batalhão do Diretório Postal Central, comandado por Charity Adams.
A tropa de 850 mulheres afro-americanas, entre as milhares que se inscreveram para o trabalho, receberam treinamento básico na Geórgia antes de serem enviadas para Birmingham, na Inglaterra. A unidade 6888 foi responsável por classificar e entregar meses de correspondência acumulada para cerca de 7 milhões de soldados americanos que lutavam na frente de batalha europeia.
(Fonte: Our Heritage Magazine/Repodução)
De fevereiro de 1945 a março de 1946, esse batalhão de mulheres compilaram os pacotes distribuídos em armazéns na Inglaterra e na França, tendo também a delicada tarefa de censurar as cartas que pudessem conter informações confidenciais de guerra, de modo que não ferisse a moral dos soldados interferindo no que estava escrito ou no que eles leriam.
No entanto, o 6888º batalhão fez mais do que uma contribuição essencial para o cenário da Segunda Guerra Mundial, ele representou uma mudança nos papéis raciais e de gênero nas Forças Armadas. Essas mulheres negras enfrentaram a discriminação que havia na própria WAC, que negou milhares de inscrições de negras em centros de recrutamento pelo país.
(Fonte: Newsroom/Reprodução)
Para as 6.500 mulheres afro-americanas que entraram para a corporação, a experiência foi o convívio em pelotões, alojamentos, refeitórios e instalações recreativas de maneira segregada – sendo que foram encorajadas a se inscreverem sob a promessa de que não seriam discriminadas. Todas elas entraram através de um sistema de cotas em que o número de negros nunca poderia exceder 10% da instituição.
O maior contingente negro em uma era de segregação racial na América, o batalhão encontrou uma realidade muito diferente quando chegou em Birmingham – apesar de trabalharem 24 horas, investigando endereços em milhares de cartões de identificação com número de série complexos. As mulheres negras sempre eram convidadas pelos moradores do bairro para tomarem chá, almoçar e conversar para aliviar o estresse do trabalho.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
A missão do 6888º batalhão terminou em março de 1946, em Paris, depois que foram distribuídas as correspondências de todos os soldados. Para aquelas 850 mulheres negras, era importante que milhares de pessoas ouvissem de seus entes queridos, mas era ainda mais importante que elas não falhassem.
“Elas sabiam que se uma delas falhassem, então todos os negros falhariam perante a sociedade. Os batalhões negros carregavam o peso de que seu papel na guerra era sobre algo muito maior do que eles”, disse Gregory S. Cooke, historiador da Universidade Drexel, em seu documentário Guerreiras Invisiveis: As mulheres afro-americanas na Segunda Guerra Mundial.