Artes/cultura
09/07/2021 às 08:00•5 min de leitura
Em junho, nós comemoramos o Mês do Orgulho LGBTQIA+ — com destaque para o dia 28, que relembra o início dos protestos de Stonewall há mais de 50 anos, um marco na luta pelo direito dessas minorias. Ainda nesse clima, vamos falar sobre um reality show que se tornou um marco da cultura LGBTQIA+ na última década e, ao longo dos 12 anos em que está no ar, ajudou a tornar essa cultura mainstream.
Hoje em dia, RuPaul's Drag Race deixou de ser um programa apenas das minorias — é possível ver cada vez mais pessoas héteros, homens e mulheres, se interessando por ele. A estreia da última temporada (a 13ª) triplicou a audiência do canal VH1 no horário, com mais de 1,3 milhão de pessoas assistindo à transmissão — fora milhões que viram o programa via streaming, nos dias seguintes, ao redor do mundo.
RuPaul's Drag Race é apresentado pela drag queen que dá nome ao programa (na foto) (Imagem: Wikia/Reprodução)
E essa é a questão: mais do que um sucesso de audiência nos Estados Unidos, onde tudo começou, RuPaul's Drag Race se tornou um fenômeno na cultura pop mundial, com milhões de fãs nos cinco continentes.
Agora, em julho de 2021, o terceiro episódio da temporada All Stars 6 (já vamos explicar o que isso quer dizer!) se tornou o segundo mais bem avaliado da história do programa entre crítica e público, com nota 9,5 no IMDB. Isso demonstra que, depois de mais de 12 anos, RuPaul's Drag Race continua em crescimento — e esse é um ótimo momento para você conhecer o show, caso nunca tenha visto.
Basicamente, RuPaul's Drag Race é um reality show de competição entre drag queens — isto é, artistas que não necessariamente são mulheres, mas se vestem e se portam de maneira exageradamente feminina em suas apresentações, como Pabllo Vittar e Gloria Groove, aqui no Brasil. O tal RuPaul, que dá nome ao programa, é considerado a rainha das drag queens ao nível mundial.
A cada temporada, algo entre 10 e 15 artistas participam de uma série de desafios, com uma eliminada por episódio, até que RuPaul decida quem será coroada "a próxima drag queen superstar" — ou seja, a melhor da competição.
Esses desafios envolvem os talentos importantes para ser uma drag queen completa: atuar, cantar, dançar, costurar roupas bonitas, se maquiar bem, ser engraçada, ter uma "marca" pessoal, entre outros. Além dos desafios, as queens precisam apresentar um look por episódio, de acordo com o tema da semana, ao longo de toda a temporada.
Cada episódio — com cerca de uma hora de duração — apresenta um mini-desafio mais informal e divertido, além do desafio principal que explicamos e o desfile com os looks do tema daquela semana (o vídeo acima é de um dos desfiles, da 12ª temporada).
Ao final das apresentações, as drag queens recebem as críticas dos jurados por sua performance nos desafios e desfiles, escolhendo a vencedora da semana e as duas piores — ou bottom, no original em inglês.
As queens do bottom participam do "lipsync for your life" — ou "dublar por sua vida", em português. A dublagem de músicas de artistas importantes para o meio LGBTQIA+ é um dos principais atos para qualquer drag queen, por isso faz todo sentido que esse seja o momento decisivo do episódio.
O participante com a melhor performance no "lipsync" ouve um "shantay you stay" de RuPaul e continua no programa. Quem vai pior, recebe um "sashay away" e é eliminado. Isso acontece toda semana, até que restem três ou quatro queens no episódio final e a melhor seja coroada a vencedora. Abaixo, temos um lipsync da 13ª temporada:
Essa é uma pergunta cuja resposta pode render pesquisas acadêmicas e debates por horas e horas. Mas, basicamente, o show transforma uma subcultura do meio LGBTQIA+ em algo que qualquer pessoa pode entender e se divertir. Além disso, RuPaul's Drag Race oferece a competição e o drama que as pessoas amam ver em reality shows, mas de uma maneira ainda mais interessante.
Isso porque, para começar, drag queens costumam ter personalidades muito fortes, de modo que os participantes criam uma infinidade de situações divertidas para o público. Além disso, há muito esforço envolvido no trabalho de uma drag queen — maquiagem, roupas, performance... — de modo que há muita emoção em cada episódio. Em resumo, o show é emocionante e muito divertido.
Também vale observar que o show dá destaque para pessoas gays e transgêneros que eram excluídas pelo mundo e têm histórias de vida muito interessantes. O programa dá espaço para que os participantes dividam suas histórias e discutam assuntos essenciais para o meio LGBTQIA+.
Vários artistas que saíram do programa se tornaram famosos na mídia mainstream, além do público do programa: Alyssa Edwards (da 5ª temporada) e Trixie Mattel (7ª) ganharam seus próprios programas na Netflix, Shangela (3ª) estrelou comerciais para grandes marcas e atuou em Nasce Uma Estrela, com Lady Gaga, só para citar alguns exemplos.
Falando em Gaga, ela participou como jurada convidada em um episódio, assim como Ariana Grande, Nicki Minaj, Miley Cyrus e vários famosos. Essas são algumas amostras do fenômeno pop que RuPaul's Drag Race se tornou, além da comunidade LGBTQIA+.
Esse é outro fato que demonstra como RuPaul's Drag Race se tornou um fenômeno: desde sua estreia no Logo, canal especializado no público gay e com baixo orçamento, em 2009, o show ganhou 13 temporadas regulares e se mudou para a VH1, um canal maior.
Cada episódio de RuPaul's Drag Race é acompanhado por um "Untucked", que mostra os bastidores daquele desafio. Você não precisa ver todos os Untucked para entender o que está acontecendo. Porém, isso é altamente recomendado, já que é nos bastidores que boa parte das confusões e do drama acontece.
Além disso, há seis temporadas All Stars (como mencionamos anteriormente, a All Stars 6 é a que está no ar agora, em 2021). Essas edições trazem de volta as drag queens mais lembradas das temporadas regulares para competir novamente — ou seja, é um spin-off, derivado da série original, e você pode assistir depois.
O elenco da 13ª temporada de RuPaul's Drag Race (Imagem: YouTube/Reprodução)
Se você está entrando nesse mundo agora, saiba que todas as 13 temporadas regulares estão disponíveis na Netflix. Mas nenhum fã do programa diria para você começar pela primeira, que tem baixo orçamento e ainda não tem vários dos atributos que fizeram da série um fenômeno. Então você deve começar pela última?
Pode ser! Mas é quase consenso entre os fãs que as melhores temporadas de RuPaul's Drag Race são a quarta, quinta e sexta. Por isso, é altamente recomendado que você comece por essas três. Você pode assistir o episódio "normal" e depois o Untucked, para saber o que rolou nos bastidores. Mas muitas pessoas só assistem os episódios normais, já que apenas os Untucked das três últimas temporadas (11, 12 e 13) estão na Netflix. O streaming também tem duas temporadas do derivado All Stars, a 4ª e 5ª.
Vale mencionar que há cada vez mais temporadas internacionais de Drag Race — mais uma amostra do fenômeno que o programa se tornou. As temporadas britânicas, feitas pela BBC, são ótimas! A canadense também é muito interessante. Além disso, já houve Drag Race na Holanda, Austrália, Espanha e outras versões estão a caminho. E, sim, nós torcemos para que uma versão brasileira chegue logo.
Nossa dica é começar pelas temporadas 4, 5 e 6 – consideradas as mais clássicas do programa (Imagem: Evening Standard/Reprodução)
Infelizmente, a gente precisou deixar muitos detalhes sobre o show de fora — se você quiser complementar essa matéria nos comentários, fique à vontade —, mas a ideia era explicar o fenômeno RuPaul's Drag Race para quem não conhecia. Esperamos que você goste do que viu aqui e se divirta com o programa!