Artes/cultura
11/07/2021 às 08:00•2 min de leitura
Ninguém poderia imaginar que o jovem Paul Gruninger, nascido em St. Gallen, na Suíça, em 27 de fevereiro de 1891 – e que passou a maior parte de sua juventude jogando futebol pelo time local –, se tornaria um dos maiores símbolos do combate aos primórdios do Holocausto.
Ele se alistou no Exército da Suíça logo durante a Primeira Guerra Mundial, servindo como tenente e depois se juntando à força policial de St. Gallen no final do conflito. Promovido a capitão em 1925, Gruninger se tornou presidente da Associação de Policiais Suíços, chegando a fornecer segurança até para o imperador Hirohito.
(Fonte: House of Switzerland/Reprodução)
O ano de 1938 foi marcado pela forte tensão da Suíça quando a Alemanha de Adolf Hitler entrou na Áustria após uma malfadada votação de anexação. Então aconteceu o desespero dos refugiados judeus no país, que forçaram as fronteiras suíças para tentar escapar do genocídio que sabiam que estaria por vir.
Mas a Suíça não os queria, por isso ordenou que os alemães marcassem todos os passaportes judeus com um "J", de modo a impedir sua emigração para o país. A rota de fuga judaica foi pelo sul do Lago de Constança, através da fronteira suíço-austríaca, em direção ao município de St. Margarethen, onde Gruninger era o líder da polícia de fronteira.
Estima-se que 96 mil dos 192 mil judeus da Áustria fugiram.
(Fonte: House of Switzerland/Reprodução)
Gruninger, responsável por repelir todos os refugiados, não aceitou aquela situação, sendo assim, em agosto de 1938, ele passou a permitir que os judeus cruzassem a fronteira para escapar do terror nazista.
Desafiando seus superiores, ele falsificou 3,600 documentos para parecer que os refugiados chegaram antes das restrições de fronteira. Gruninger chegou a ir além, comprando, sapatos, roupas de inverno para as pessoas que abandonaram tudo na Áustria e estava só com a roupa do corpo, e oferecendo tratamentos médicos e dentários.
(Fonte: Yad Vashem/Reprodução)
O homem entregou relatórios falsos, atrapalhou esforços das autoridades para rastrear os refugiados que haviam entrado ilegalmente na Suíça, e até montou um campo de refugiados perto de Diepoldsau com a Associação Suíça de Refugiados Judeus. Ele também ordenou que os oficiais sob seu comando cooperassem com seu trabalho.
(Fonte: Yad Vashem/Reprodução)
Em 3 de abril de 1939, Gruninger foi impedido de ocupar seu posto na fronteira pelo cadete Anton Schneider, após suas atividades terem sido descobertas por Heinrich Rothmund – responsável por pedir para que o "J" fosse adicionado aos passaportes dos judeus.
Demitido do cargo, Gruninger enfrentou um julgamento que durou 2 anos, onde foi acusado de permitir que os judeus entrassem ilegalmente na Suíça. O tribunal o considerou culpado, e ele foi condenando a pagar multas altíssimas e perdeu seus benefícios de aposentadoria.
(Fonte: Alchetron/Reprodução)
Com uma ficha criminal suja por crimes considerados "graves", o homem teve que trabalhar como operário, comerciante de tecidos, vendedor de tapetes, instrutor de direção e até gerente de uma loja de capas de chuva, até que se encontrasse na profissão de professor.
Apesar das dificuldades que teve que enfrentar, em momento algum ele se arrependeu do que fez. “Tenho orgulho de ter salvado a vida de centenas de pessoas oprimidas. Meu bem-estar não era nada comparado com o destino cruel de milhares de judeus”, disse ele em 1954, logo após seu veredicto.
Paul Gruninger faleceu em 22 de fevereiro de 1972 como um "tolo" qualquer que destruiu sua vida e carreira "por nada". Seu trabalho só foi reconhecido anos mais tarde.