Artes/cultura
16/09/2021 às 11:00•4 min de leitura
Muitas produções estrangeiras se tornaram parte da cultura popular: as comédias mexicanas de Chespirito, as séries americanas e, mais recentemente, até algumas europeias, como Dark.
Dessa forma, essa relação é de mão-dupla, porque as produções audiovisuais brasileiras também fazem bastante sucesso lá fora — e nem estamos falando das séries locais da Netflix, como 3%, mas sim das boas e velhas novelas. Você sabia que as novelas brasileiras mudaram o vocabulário na Rússia, influenciaram na economia de Cuba e ganharam continuações no Chile?
Pois é! Hoje, nós vamos falar sobre o sucesso das novelas brasileiras no exterior.
As novelas começaram a se tornar um "produto de exportação" brasileira com O Bem-Amado, clássico escrito por Dias Gomes em 1973 e que nós já analisamos em outro post aqui no Mega. Essa foi a 1ª novela filmada em cores no Brasil e também a ser transmitida para outros países, fazendo sucesso em toda a América Latina a partir de 1976.
As desventuras de Sucupira e seu amalucado prefeito são uma história tão boa que a novela ganhou uma versão mexicana, em 2017: El Bienamado. O prefeito virou Odorico Cienfuegos, e as irmãs Cajazeiras se tornaram as irmãs Samperio. Antes disso, nos anos 1990, o texto de Dias Gomes já tinha ganhado uma adaptação no Chile — mas isso é assunto para o próximo item.
O escritor Cassiano Gabus Mendes é um dos responsáveis pelas novelas brasileiras serem o que são hoje: ele criou Beto Rockfeller, produção de 1968 que foi 1ª com texto que se passava realmente no Brasil, com dramas atuais.
Antes, as novelas eram histórias de época, em reinos longe daqui. Oito anos depois, ele criou a fórmula que as novelas das 19h seguem até hoje — um pouco de romance e um pouco de comédia —, com Anjo Mau.
Em 1986, a televisão chilena fez uma adaptação do texto: Ángel Malo. O sucesso foi tanto que o canal comprou todas as novelas possíveis de Cassiano Gabus Mendes. Então vieram:
Marrón Glacé ainda ganhou uma continuação que não existiu no Brasil — El Regreso —, assim como Sucupira, a versão chilena de O Bem-Amado. Isso que é sucesso!
Por décadas, a novela brasileira mais vista no exterior foi a sofrida história da escrava branca interpretada por Lucélia Santos. Escrava Isaura não apenas foi exibida em mais de 80 países, como também fez um sucesso estrondoso na maioria deles — de parar o país mesmo.
Nos anos 1980, a novela dominou o bloco comunista: virou o programa mais popular da história da Polônia, gerou vários bebês batizados como Isaura, na Albânia, estimulou vaquinhas para comprar a alforria da escrava na Hungria, fez um racionamento de energia ser suspenso em Cuba e até causou um cessar-fogo na guerra entre Bósnia e Sérvia. É sério...
Em alguns países, como China e Rússia, Escrava Isaura foi o primeiro contato que o povo de lá teve com a cultura de fora do país. Na China, a atriz Lucélia Santos foi recebida com honras de chefe de estado por multidões. Já na Rússia, o impacto foi tão grande que a palavra "fazenda", citada na novela, é utilizado até hoje para descrever pequenas propriedades. A youtuber Olga, que é russa, fez um vídeo para falar sobre a loucura pela novela em seu país.
Mas não foi só em países comunistas que Escrava Isaura fez sucesso: ela foi uma das únicas novelas em língua estrangeira a ser transmitida no Reino Unido, como Isaura the Slave Girl e já foi reexibida 7 vezes na França, além de 5 na Alemanha. Até hoje, tem país que passa essa novela, que é de 1976.
Outra amostra curiosa da influência das nossas novelas no exterior: o governo cubano permitiu que pessoas tivessem restaurantes privados, que acabaram sendo chamados de "paladares" — o nome da empresa que a personagem de Regina Duarte abriu em Vale Tudo (1988).
A partir dos anos 1980, as redes de televisão estrangeiras já sabiam que exibir novelas feitas no Brasil era garantia de audiência. Em Portugal, por exemplo, todas desde Gabriela (1975) são exibidas quase ao mesmo tempo que no Brasil e, geralmente, fazem mais sucesso do que as produzidas por lá.
Contudo, um caso curioso aconteceu quando a Globo produziu a novela Sinhá Moça, em 1986, repetindo o mesmo par principal de Escrava Isaura (Lucélia Santos como a mocinha e Rubens de Falco como vilão): mais de 50 países compraram os direitos de exibição antes mesmo de ela começar. Estima-se que outros 63 países assistiram à Sinhá Moça ao mesmo tempo que nós, aqui no Brasil. Só não dá para repetir a dose porque, infelizmente, Rubens faleceu em 2008.
Imagem: TV Globo/Reprodução
Escrava Isaura só foi superada nos anos 1990, quando Terra Nostra chegou a 83 países. Porém, a saga italiana escrita por Benedito Ruy Barbosa não permaneceu por muito tempo no 1° lugar: O Clone, de 2001, foi exibida em mais de 90 países e fez "Jade" ser o nome favorito para bebês na comunidade hispânica dos Estados Unidos.
Alguns anos depois, o romance de Paco e Preta, na novela Da Cor do Pecado, chegou a 100 territórios e ocupou o topo do pódio. Mas, desde 2012, só dá ela: Avenida Brasil. Para você ter ideia, a novela foi exibida em um estádio na Argentina, com presença do elenco. Desde então, a batalha entre Nina e Carminha já chegou a cerca de 150 lugares do mundo.
Fechando o pódio das novelas brasileiras mais vistas no exterior, atualmente, vem Totalmente Demais, exibida em 135 países, e A Vida da Gente, que passou em 130 — a saga de Elisa foi a primeira novela brasileira exibida na Índia, com o título Total Dreamer, enquanto o drama das irmãs Ana e Manu quebrou recordes de audiência em lugares como Holanda, Macau e Israel.
A verdade é que o Brasil é um dos maiores exportadores de conteúdo audiovisual do mundo com suas telenovelas. Até porque elas são muito mais bem feitas do que as de outros países, com mais investimentos em texto e direção, por exemplo. Vale mencionar que, nos últimos anos, as novelas turcas também estão se destacando no mercado internacional, além das mexicanas que sempre rivalizaram com as nossas. Ainda assim, as produções brasileiras continuam sendo imbatíveis nas telinhas mundo afora, sendo vendidas para mais de 150 países.