Artes/cultura
05/10/2021 às 08:00•3 min de leitura
Se em um momento da história as bruxas foram perseguidas e queimadas, mais recentemente elas parecem estar despertando o interesse da população. Esse é o caso de religiões pagãs, como a Wicca, que se baseia na existência do sobrenatural e da interação do espírito humano com a natureza.
Aliado a isso, existe um crescente interesse da população mais jovem em temas como tarot, astrologia e cristais energéticos — os quais rotineiramente são vendidos pela indústria visando apenas lucro e excluindo significados. Então, vamos entender quais são os motivos para cada vez mais pessoas estarem sendo atraídas por esses movimentos espirituais.
(Fonte: Pixabay)
A prática de métodos e rituais metafísicos para transformar a energia ao nosso redor, efetuar mudanças na natureza, criar feitiços ou conectar-se com um poder superior — comumente conhecido como feitiçaria — existe desde muito antes de muitas religiões organizadas.
Entretanto, a percepção moderna do significado de "bruxa" acabou sendo estabelecida pela forma como certos veículos midiáticos abordavam a religião e conforme outras religiões contemporâneas começaram a perseguir os adeptos desse tipo de prática.
Por esses motivos, até hoje ainda existe uma mistura de medo, fascinação, curiosidade e condenação em torno daqueles que optam por praticar bruxaria nos tempos modernos. Entretanto, boa parte desse preconceito parte do princípio de que as pessoas não têm informação o suficiente sobre as religiões pagãs e são ensinadas a condená-las.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A Wicca, uma das religiões que intitula seus seguidores de bruxos e bruxas, nasceu no Reino Unido na década de 1940. A Wicca e a bruxaria fazem parte de um movimento pagão contemporâneo mais amplo, que também inclui outros rótulos entre si, como druidas, pagãos e entre outros.
Todos esses são nomes dados para pessoas que escolheram um determinado caminho espiritual, que baseiam suas práticas em religiões do período pré-cristianismo e em outras culturas. De acordo com estudos, a população de Wicca nos Estados Unidos (EUA) tem crescido consideravelmente desde que a religião chegou ao país, em 1960.
Estima-se que existem cerca de 1,5 milhão de bruxas pelos EUA e que esses dados possam estar em expansão visto a popularidade que a religião ganhou recentemente nas redes sociais, como no TikTok e no Twitter. Ao contrário de religiões mais convencionais, a Wicca se diferencia por reverenciar uma Deusa, além de um Deus.
Além disso, a Wicca carece de uma estrutura institucional formal, como uma igreja, e coloca mais ênfase no ritual e na experiência espiritual direta do que na crença em si. Por conta disso, é comum que os adeptos se chamem de praticantes, e não crentes.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um ciclo anual de rituais Wicca inclui a existência de quatro Sabbats, ou Sabá das Bruxas, que encorajam os participantes a celebrar as mudanças que as estações trazem para a natureza e a pensar criticamente sobre como essas mudanças se refletem nas próprias vidas.
No Hemisfério Sul, por exemplo, Beltane é o nome dado para o festival realizado no dia 31 de outubro, o qual comemora a chegada do verão. Para as bruxas, esse é o momento de celebrar a fertilidade feminina na natureza e de se colocar em contato direto com o divino.
Apesar de não extrair suas crenças de nenhum texto religioso, as Wiccas utilizam apenas uma regra geral: "Não prejudique ninguém e faça o que quiser". A maioria dos praticantes costuma exercer a crença por conta própria e são livres para construir os próprios tipos de celebração.
Entretanto, a internet se tornou um importante canal de comunicação para que bruxos e bruxas entrem em contato para marcar reuniões e elaborar grandes rituais. Durante esses encontros, os praticantes podem aprender mais sobre magia e práticas espirituais uns dos outros, além de entrarem em um "espaço mágico" em que podem ser acolhidos pela divindade.
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Embora a Wicca seja uma religião inspirada em práticas pagãs e existentes antes mesmo do cristianismo, há quem enxergue nela uma religião dos tempos modernos e desenvolvida pelos mais jovens. A Deusa fornece um rosto feminino para o divino, o que algumas pessoas enxergam como uma representação das causas femininas e do empoderamento das mulheres.
Além disso, essa é uma das poucas religiões que enxerga a divindade na força da natureza, o que pode estar ligado à crescente preocupação ambiental — sobretudo entre os mais jovens. Nesse meio, a magia não é vista como um método para ferir outras pessoas, mas sim para crescimento pessoal e de aprendizado de vida.
Por fim, sociólogos apontam que existe uma tendência na sociedade de abominar a afiliação religiosa, com o número de pessoas cada vez maior se considerando "espirituais, mas não religiosos". Dessa forma, práticas como as da Wicca servem como uma maneira de essas pessoas se conectarem com suas espiritualidades, mas sem ter que seguir os padrões de uma instituição maior.