Ciência
04/11/2021 às 11:00•4 min de leitura
Nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu, em 26 de agosto de 1910, na Escópia (atualmente parte da Turquia), ela ficou mais conhecida pelo nome Madre Teresa de Calcutá, uma das figuras mais importantes da Igreja Católica por sua atuação em vida.
Ela foi canonizada em 4 de setembro de 2016 por seu imenso trabalho para o bem-estar daqueles que sofrem, ajudando nas áreas mais pobres e marginalizadas de Calcutá, na Índia, por meio do Evangelho de Jesus Cristo. Em 1965, ela fundou a congregação Missionárias da Caridade, que fez presença missionária em vários países, como na União Soviética e até na China, sustentando sua expansão por meio de doações de fiéis e entidades empresariais que admiravam seu trabalho. Só em 2015, a congregação contava com mais de 5 mil membros em 139 países.
No entanto, a "santa das sarjetas", como foi denominada Madre Teresa, também recebeu (e ainda recebe) uma enxurrada de críticas por vários aspectos, desde a maneira que administrou um verdadeiro império de dinheiro até como tratava os necessitados.
(Fonte: Jovem Pan/Reprodução)
A intenção de Madre Teresa era converter o maior número possível de pessoas ao catolicismo, e os críticos e céticos de suas práticas apontaram que os pobres e doentes pagaram o preço por essa sua ambição religiosa.
Isso porque uma igreja não é construída apenas pelo "amor de Deus", principalmente em lugares como a Índia, onde serviços essenciais são escassos. Os grupos religiosos constroem igrejas ou templos também motivados pela conversão de pessoas para a sua fé, não apenas pela bondade de seus corações.
“É bom trabalhar por uma causa com intenções altruístas, mas o trabalho de Madre Teresa tinha um motivo oculto, que era converter a pessoa que estava sendo servida ao cristianismo. Para serem amparadas, foram feitas conversões religiosas em troca”, disse Mohan Bhagwat, chefe de um grupo nacionalista hindu, sobre o processo de verdadeira catequização feito pela mulher.
(Fonte: G1/Reprodução)
No documentário britânico Anjo do Inferno (1994), dirigido por Jenny Morgan, em que algumas falhas de Teresa foram destacadas, o jornal The New York Times escreveu uma matéria em que concluiu que a mulher "esteve menos interessada em ajudar os pobres do que em usá-los como uma fonte infatigável de miséria para alimentar a expressão de suas crenças católicas romanas fundamentalistas".
Os apoiadores, por outro lado, argumentaram que, mesmo que Madre Teresa tivesse segundas intenções, ao menos as pessoas de quem ela cuidava estavam em melhor situação. Contudo, não foi bem assim.
(Fonte: Bradkronen/Reprodução)
Segundo aqueles que visitaram e trabalharam nos centros médicos da caridosa destinados à cura de pessoas, os pacientes viviam em situação de insalubridade que os deixavam ainda mais doentes — vale ressaltar que, nessa época, Madre Teresa já administrava um império de doações do mundo todo.
No documentário de Morgan, um jornalista indiano que visitou os locais comparou as Missionárias da Caridade, o centro de apoio principal, com a situação em campos de concentração de Bergen-Belsen, durante o Holocausto.
“Os trabalhadores lavavam as agulhas com água da torneira e depois as reutilizavam. Os remédios e outros itens vitais eram armazenados por meses a fio, expiravam e ainda eram aplicados esporadicamente nos pacientes”, disse Hemley Gonzales, um agente humanitário que foi voluntário por um breve período no centro principal de Madre Teresa.
Ele ainda relatou que voluntários com pouco ou nenhum treinamento realizavam trabalhos perigosos em pacientes com doenças contagiosas, como tuberculose. Os administradores da instituição se recusavam a aceitar ou implementar equipamentos médicos e máquinas, que teriam os processos automatizados com segurança e salvado vidas, alegando que o trabalho era por meio da "cura do amor e fé cristã".
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Nos centros de cuidados paliativos, a Madre Teresa praticou sua crença de que os pacientes só precisam se sentir desejados e morrer em paz com Deus, sem receber cuidados médicos adequados, por isso especialistas a perseguiram com mais afinco.
A revista médica The Lancet, em sua edição de 1994, relatou que a medicina era escassa nos centros de ajuda de Teresa e que os pacientes não recebiam nada perto de um tratamento adequado de que precisavam para aliviar a dor. Os “lares para moribundos”, como os médicos chamavam, tinha uma taxa de mortalidade de mais de 40%.
Entretanto, para Madre Teresa, essa estatística não era necessariamente uma coisa ruim. “Há algo de belo em ver os pobres aceitarem sua sorte, sofrê-la como a Paixão de Cristo. O mundo ganha muito com o sofrimento deles”, justificou ela, em resposta às críticas, o que só enfureceu ainda mais todos aqueles que não toleravam sua romantização da dor. Porém, quando o assunto era o próprio sofrimento, Madre Teresa sempre procurou por ajuda médica especializada nos melhores e mais caros hospitais dos Estados Unidos.
(Fonte: Salon/Reprodução)
Certamente, a maior controvérsia envolvendo o nome de Madre Teresa é com relação à administração de todo o seu dinheiro, além do fato de como ela recebeu doações milionárias de pessoas corruptas, "passando pano" nas atitudes deles.
O advogado, banqueiro e conservador americano Charles Keating, responsável pela crise de poupança e empréstimos da década de 1980, provocada pelo mercado imobiliário e pela especulação com empréstimos — doou US$ 1,2 milhão para Madre Teresa. E, enquanto estava sendo julgado, o juiz que presidia seu caso recebeu uma carta da mulher pedindo por clemência pelos seus crimes.
“Não sei nada sobre o trabalho do Sr. Keating, só sei que ele sempre foi gentil e generoso com os pobres de Deus”, disse ela.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Em resposta, o copromotor do caso de Keating respondeu à mulher que o que mais o réu fez foi roubar dos pobres. De acordo com uma reportagem de 1991 da revista alemã Stern, apenas 7% dos milhões de dólares que Madre Teresa recebeu foram destinados à caridade, apesar de incontáveis católicos terem feito doações polpudas para os cofres das instituições.
Até hoje ninguém sabe para onde todo o dinheiro de Madre Teresa foi, tampouco em que foi usado. Desde sua morte, em 5 de setembro de 1997, em Calcutá, muitos tentam entender por qual motivo a Igreja Católica decidiu tornar a mulher uma santa, cujas práticas de benevolência não foram suficientes para arrancá-la do mundanismo da humanidade.
Talvez tenha sido pelo fato de ela ter arrastado mais multidões para igrejas ao redor do mundo para se reunir à religião considerada "a única importante" até hoje.