Artes/cultura
15/11/2021 às 09:00•3 min de leitura
Para muitas pessoas, a organização criminosa que é a máfia, que muito prosperou durante o século XX, principalmente nos Estados Unidos e na Itália, se baseia em produtos e atividades que são altamente rentáveis devido a sua ilegalidade, como drogas, jogos de azar e prostituição.
No entanto, os grandes chefões colocaram suas mãos exploradoras em qualquer coisa que trouxesse lucro, além de também terem entrado em conluio com muitas autoridades para manter seu império de sujeira rendendo para eles e para o país.
Ao longo da história da máfia nos EUA, seu alcance foi muito além do que se possa imaginar. Para criar incursões em outras indústrias sem chamar muita atenção para si mesmos, as famílias criminosas encontraram maneiras criativas e discretas de lavar dinheiro e governar onde menos se esperava.
(Fonte: Portaland Art Museum/Reprodução)
Uma das maiores organizações mafiosas da história, a família italiana La Cosa Nostra, encontrou uma das maneiras de ocultar seus negócios, na Nova York de 1950, através do sistema de saneamento comercial da indústria de transporte de lixo da cidade.
A máfia se infiltrou no negócio através do sindicato dos Teamsters, ganhando influência sobre as rotas que os Carters, como são chamados os caminhões de lixo do Departamento de Saneamento da Cidade, faziam. O sistema de coleta sempre foi considerado vulnerável, então os criminosos se aproveitaram disso para controlarem os caminhões ou adicionarem pessoas que faziam nem sequer parte do trabalho.
Quando a empresa terceirizada Browning-Ferris Industries entrou no mercado de coleta de lixo, em 1992, a esposa de um dos executivos encontrou a cabeça decapitada de um pastor alemão em seu gramado no dia seguinte, com uma mensagem de “Bem-vindo a Nova York” em sua boca.
(Fonte: Wikimedia/Reprodução)
Quando o prefeito Rudolph Giuliani assumiu o comando de Nova York, uma de suas prioridades políticas foi inspecionar o que a máfia aprontava em meio aos sacos de lixo da indústria de coleta. Contudo, a presença dos criminosos resistiram, tanto que, em janeiro de 2013, 30 pessoas membros das famílias Gambino, Genovese e Luchese foram indiciadas por extorsão.
Em Nápoles, Itália, porém, o controle das famílias no sistema de lixo ainda é considerado imenso, desde o início da década de 1980. Isso virou notícia mundial em 2008, quando o lixo não coletado se amontou pelas ruas da cidade por mais de duas semanas porque os criminosos mantiveram a indústria parada.
(Fonte: Local 157/Reprodução)
A máfia também entrou no ramo da construção através dos sindicatos, que eram a melhor maneira de instaurar controle. Visto que as empresas de construção fazem propostas de empregos que incluem equipes sindicais, os criminosos adicionam taxas nas licitações e ganham os contratos das construtoras comandadas por eles, pagando bem menos aos seus trabalhadores.
A sujeira se espalhou através da ameaça, injustiça e violência nos sindicatos, com os comparsas da máfia conseguindo os melhores empregos, abalando as equipes legítimas. O crime se infiltrou em empresas que forneciam materiais para acumular custos e aumentar o preço da construção.
Só em 1986, o escritório do prefeito Giuliani julgou cinco famílias que controlavam sindicatos de trabalhadores e exigiam propinas que custaram milhões à cidade. Ainda hoje existem subcontratados com conexões aos mafiosos que continuam a construir projetos pela cidade para desviar dinheiro. Isso aconteceu, por exemplo, durante a construção do One World Trade Center, em 2006.
(Fonte: The Verge/Reprodução)
Foi em países da Europa que surgiu o termo “ecomáfia”, que cresceu na Itália, claro, ao se aproveitar de vantagens ambientais oferecidas pelo governo pela União Europeia para entrar no ramo de energia eólica e outros tipos de energia verde para poder fazer lavagem de dinheiro.
A falta de regulamentação no setor, preço alto do produto, financiamento complicado e subsídios governamentais foram uma combinação de fatores que tornaram a energia eólica atrativa para os criminosos. Na Itália, ela é vendida por um preço mais alto que em qualquer lugar do mundo, por isso que surgiram diversos moinhos de vento nas colinas da Sicília. Enquanto isso, os fornecedores eólicos legítimos perderam suas licenças na indústria ou acabaram vendendo seu negócio para a própria máfia sem saber.
Muito embora a presença e as atividades tradicionais da máfia tenham diminuído ao longo dos anos, ela ainda resiste em vários setores, como no tráfico de drogas, restaurantes, bares e jogos de azar.
Só na Itália, por exemplo, a família La Cosa Nostra controla uma em cada cinco empresas do país, com ramificações em outras partes do mundo. Ela, literalmente, está por todos os lugares.