Os infames trens de fezes humanas de Nova York

01/12/2021 às 12:002 min de leitura

O lodo de esgoto, também conhecido como biossólido, é uma massa microbiana que decanta durante o processo de tratamento do esgoto bruto. Por anos, o resíduo de toda a cidade de Nova York  acabou no leito do rio Hudson ou no Oceano Atlântico.

Assim foi feito até 1988, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos proibiu o despejo de biossólidos no oceano ou em rios, colocando a prefeitura da cidade em uma “saia justa” para encontrar uma alternativa.

O que fazer com toneladas de cocô de milhares de cidadãos de Nova York?

Os trens

(Fonte: NBC News/Reprodução)(Fonte: NBC News/Reprodução)

A empreiteira Enviro-Gro Technologies teve a ideia de reunir todas as fezes da cidade e transportá-las em trens para serem usados em campos agrícolas como adubo. Contudo, a empresa encontrou muitos obstáculos porque a maioria dos estados não queria ter nada a ver com o cocô de Nova York.

A Enviro-Gro só encontrou estadia no Colorado, onde estabeleceu um programa de aplicação dos biossólidos que durou um ano, de 1991 a 1992. Em abril de 1994, Kelly Sarber, que fazia parte da equipe da empreiteira, escreveu um artigo para a BioCycle descrevendo o alcance público e a campanha educacional ao nível estadual para promover a aceitação pública do programa de biossólidos.

(Fonte: NBC News/Reprodução)(Fonte: NBC News/Reprodução)

“Quando o governador Romer do Colorado saiu para jogar uma pá cheia de biossólidos da cidade de Nova York em um campo, ficou claro que a localização inicial do projeto havia sido bem-sucedida”, escreveu Sarber.

A aplicação do lodo de esgoto como fertilizante em plantações ajudou a crescer e apoiar o projeto no Colorado, que durou 20 anos, terminando em 22 de abril de 2012, devido aos custos do programa. Atualmente, metade dos biossólidos de Nova York são usados como aterro e a outra metade na recuperação de minas.

O grande fedor nova-iorquino

(Fonte: CBS Minnesota/Reprodução)(Fonte: CBS Minnesota/Reprodução)

Em janeiro de 2018, a cidade de Parrish, no Alabama, com apenas mil habitantes, entrou em desespero quando um trem de fezes humanas vindo de Nova York ficou encalhado no meio do caminho que atravessa a cidade.

Aquecidas ao sol, nem o ferro dos vagões de 250 contêineres cheios de esgoto conseguiu conter o fedor que contaminou a cidade. Os residentes descreveram o episódio como “um verdadeiro pesadelo”, que só aconteceu porque o comboio foi barrado pela falta de uma liminar da cidade de West Jefferson, que fica no caminho para o destino final, Big Sky Landfill. Visto que Parrish não tinha regulamentos de zoneamento para manter o trem de cocô afastado, ele ficou estacionado por lá até que toda a burocracia fosse resolvida.

“São apenas fezes puras. Às vezes pega você apenas vindo do ar. Isso tira o fôlego”, disse a moradora Sherleen Pike à Associated Press.

(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)(Fonte: Wall Street Journal/Reprodução)

A prefeita de Parrish, Heather Hall, disse que a cidade cheirava a cadáveres podres e morte. Tudo ficou contaminado pelo odor. As pessoas chegaram até a passar óleo de hortelã-pimenta sob o nariz para não sentir o esgoto pelo ar o tempo todo.

Os 5 milhões de quilos de cocô pútrido só foram retirados da pequena cidade em 18 de abril de 2018, após 3 meses de sofrimento e muita briga judicial. O governo de Nova York estabeleceu uma meta de acabar com os aterros sanitários até 2030, segundo a estratégia de longo prazo chamada “Uma Nova York: O Plano para uma Cidade Forte e Justa”.

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