Estilo de vida
13/12/2021 às 11:00•3 min de leitura
Uma reserva indígena localizada no interior do Mato Grosso está na iminência de desaparecer. E um detalhe: nela habitam os últimos três membros de uma etnia indígena brasileira. Esta é a história dos Piripkura, um povo isolado que corre o risco de se extinguir. A razão: o avanço da pecuária e o corte de madeira ilegal ocorrido no seu território.
A tribo dos Piripkura é composta por três pessoas: a idosa Rita Piripkura, seu irmão Baita e seu sobrinho Tamanduá. Eles são os últimos sobreviventes desta etnia, e vivem sob a constante ameaça causada pelos invasores que entram na sua terra, embora ela esteja protegida por lei.
A indígena Rita Piripkura.
A reserva piripkura tem o tamanho equivalente a 3 mil campos de futebol. Desta região, cerca de 24 km² foram devastados entre 2020 e 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Embora muitas reservas estejam igualmente ameaçadas, a situação dos Piripkura é bastante crítica. "Eles estão à beira da extinção e podem ser mortos em questão de dias", comenta Sarah Shenker, da entidade britânica Survival International, que é focada na proteção de povos indígenas.
Há ainda suspeitas de que invasores estão ocupando partes da reserva. Segundo Leonardo Lenin, secretário-geral do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas (OPI), foram encontradas marcas de invasão em um local que fica a 5 km de onde Baita e Tamanduá se encontram. "Eles estão sob grande perigo, não há dúvida disso", afirma.
Os Piripkura são apenas uma das tribos isoladas ou não contactadas (ou seja, que vivem sem contato com tribos vizinhas ou com o mundo exterior) que hoje existem no Brasil. Desde quando os Piripkura foram contatados pela primeira vez pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1984, a tribo só encolheu.
Dos cerca de 20 integrantes do povo, restam apenas 3. Rita lembra, inclusive, de um massacre em que 9 parentes seus foram mortos. "Eles [os invasores] mataram e nós tivemos que fugir", disse.
Tamanduá e Baita, ao lado de Jair Condor, indigenista da Funai.
Leonardo Lenin explica que esses confrontos com invasores impactaram enormemente sobre o modo de vida dos Piripkura. "A língua deles tem palavras que descrevem práticas de agricultura, o que sugere que eles tinham alguma forma de sociedade agrária no passado", explica. "Mas desde os anos 1970 eles se tornaram caçadores-coletores nômades. É uma estratégia de sobrevivência estar sempre em movimento."
Estima-se que há hoje cerca de 100 grupos deste tipo espalhados pelo mundo – e 50 deles estariam na Região Amazônica. A principal ameaça que esses grupos sofrem é representada por invasores.
Segundo os defensores dos povos indígenas, o atual governo, de Jair Bolsonaro, tem responsabilidade pela gradativa destruição dos direitos indígenas e pela destituição do território deles. Isso porque o presidente costuma afirmar que os indígenas (que representam 1,1 milhão da população brasileira) não deveriam ter direito a 13% da área territorial do país, embora isso tenha sido determinado pela Constituição Brasileira de 1988.
Há cerca de 50 povos isolados no território amazônico.
Por essa razão, Bolsonaro é o primeiro presidente do Brasil democrático a não assinar demarcações de terras indígenas, o que tem aumentado a quantidade de conflitos sangrentos na Região Amazônica.
Vale lembrar que a reserva piripkura é protegida por um dispositivo legal voltado para áreas indígenas. Mas esse instrumento precisa ser renovado periodicamente — e a ordem expedida pelo governo em setembro só dá proteção de mais 6 meses para a reserva.
Fabrício Amorim, especialista em povos indígenas, diz que esse dispositivo coloca os últimos Piripkura em risco iminente. "Essa decisão manda a todos uma mensagem errada e está dando esperança aos invasores de que eles vão se apoderar de terras indígenas cedo ou tarde", ele acredita.