Artes/cultura
23/02/2022 às 07:00•2 min de leitura
Em uma versão alternativa da história, Civilizações, mais recente obra do escritor francês Laurent Binet, imagina uma realidade distinta da que conhecemos. Em vez de a Espanha conquistando e devastando as populações originárias da América do Sul, seria o Império Inca, comandado por Atahualpa, o último rei da civilização, que teria adentrado o território espanhol e dado início à colonização do império de Carlos V, do sacro império romano-germânico.
Para tanto, o autor cria um incidente, relativamente plausível, que teria mudado o curso da história: vikings, em vez de apenas passarem pela costa canadense, seriam forçados a se estabelecer na região. Anos depois, a herança dessa presença (que iria das armas de ferro a anticorpos) daria mecanismos para que os povos da América reagissem à chegada de Cristóvão Colombo.
(Fonte: Mythologica)
Binet tirou a inspiração para a obra de Guns, Germs and Steel (Armas, Germes e Aço, em tradução literal), de Jarred Diamond, que tem um capítulo dedicado a Atahualpa, o último imperador inca, e Francisco Pizarro, o europeu que invadiu e dominou o Peru.
Diamond levanta a questão, procurando entender a razão de Pizarro ter ido ao Peru, e não Atahualpa à Europa. A teoria para tal também foi retirada do livro de Diamond, segundo a qual os incas, nativos americanos, precisariam de três coisas para poder resistir à invasão espanhola: cavalos, aço e, principalmente, anticorpos.
Como tinham mais animais domésticos, os europeus acabavam mais expostos a micróbios, o que permitia que criassem anticorpos para doenças específicas, realidade distinta dos povos americanos. Dessa forma, a presença dos vikings no Canadá poderia ter modificado essa situação, dando cavalos, armas e anticorpos aos povos locais e garantindo tempo para que os indígenas da América resistissem à chegada de Cristóvão Colombo.
(Fonte: BBC/Getty Images)
O autor de Civilizações, por meio um extenso processo de pesquisa, levantou informações dos envolvidos em seu romance. Sobre o imperador Atahualpa, o que se sabe é que, além de inteligente, era muito astuto e pragmático. Por essa razão, acredita-se que em uma incursão dos indígenas da América para a Europa o processo de domínio territorial seria semelhante ao ocorrido aqui.
Isso porque os incas não eram uma democracia, e sim um império imperialista, que vivia, à época, um franco processo de expansão. Na obra, Binet constrói a estratégia de Atahualpa como alguém que raciocinaria e se comportaria como o colonizador Hernan Cortés (1485-1547), que destruiu o Império Asteca, procurando encontrar aliados entre as minorias oprimidas, como judeus, muçulmanos e camponeses alemães.
(Fonte: Educa Mais Brasil)
O Império Asteca e o nome do imperador Montezuma são muito comentados quando se estuda as civilizações pré-colombianas. Ainda assim, Binet optou pelos incas para compor sua obra. Segundo o autor francês, isso foi puramente fruto do acaso.
No processo de pesquisa para a escrita, ele visitou a Feira do Livro de Lima (Peru) antes do evento de Guadalajara (México). Dessa forma, entregou uma trama com Atahualpa como personagem central em vez de Montezuma. Porém, como afirmou em entrevista à BBC Brasil, no fim a organização econômica e social dos incas era mais interessante que a dos astecas. Portanto, um feliz acaso.