Ciência
05/03/2022 às 09:00•2 min de leitura
Se hoje nós podemos ser recompensados com os gloriosos filmes da Pixar e da Disney, as animações tiveram que ter um ponto de partida de algum lugar. Portanto, até mesmo os simples GIFs que usamos nas nossas conversas de WhatsApp são frutos de algo que a humanidade já construiu no passado.
Estudos recentes apontam que as primeiras formas de imagem em movimento existentes no mundo podem ter sido identificadas em artes rupestres. Um dos primeiros exemplos desse tipo de arte pode ser identificado na caverna Lascaux, na França, que foi descoberta em 1940 e traz resquícios de desenhos feitos por nossos ancestrais há 21 mil anos.
(Fonte: Norbert Aujoulat)
Quando encontraram a caverna Lascaux em 1940, também foram encontradas cerca de 100 lâmpadas de pedra que uma vez foram usadas para queimar gordura animal e reproduzir luz. Quando esses artefatos foram descobertos, no entanto, ninguém parou para pensar como a posição onde eles estavam posicionados poderia interagir com as figuras pintadas nas paredes.
Em geral, nunca foi de muito interesse dos arqueólogos entender como o fogo era usado para produzir luz em comparação a como ele era usado para aquecer e para cozinhar. Por esse motivo, um grande detalhe passou desapercebido: aquelas lâmpadas estavam posicionadas de tal maneira por motivos artísticos.
Os artistas de Lascaux usavam o fogo para ver o interior das cavernas, mas o brilho e a cintilação das chamas também podem ter sido parte integrante das histórias que as pinturas contavam. Por essa razão, quando olhamos as imagens rupestres iluminadas com luzes fortes, brancas e uniformemente distribuídas, perdemos parte do que aquela arte queria originalmente contar.
(Fonte: Nautilus/Reprodução)
Através da reconstrução das lâmpadas de graxa, os pesquisadores puderam identificar que as luminárias daquela época conseguiam reproduzir um círculo de luz de três metros de diâmetro — não muito maior do que a maioria das imagens existentes na caverna.
Para os estudiosos, essa pequena área de luz era utilizada como um dispositivo para contar histórias. Assim, a lamparina serviria para iluminar uma única parte das imagens de cada vez. Por isso, é fácil imaginar um de nossos ancestrais movendo sua lâmpada ao longo da caverna para ir descobrindo aos poucos um novo fragmento da história.
A parte iluminada seria como um frame em um filme cinematográfico, que logo seria substituído por outro e juntos formariam uma animação. Dessa forma, todos os desenhos presentes em Lascaux podem ser lidos como uma história em quadrinhos e iluminar o cenário de uma vez só mataria a encenação por completo.
Em uma das paredes de Lascaux é possível ver uma fileira de cinco cabeças de veado enfileiradas e feitas de carvão. As imagens são quase idênticas, mas cada uma está posicionada em um ângulo ligeiramente diferente. Se olharmos cada um dos frames em sequência, teríamos um cervo mexendo a cabeça de cima para baixo como em uma curta animação de flipbook. Um exemplo de reconstituição dessas sobreposições pode ser vista no vídeo acima.
No passado, teriam dois tipos de técnica que fariam as primeiras animações: a justaposição de imagens sucessivas e a sobreposição. A primeira foi utilizada no veado de Lascaux, enquanto a segunda pode ser vista em cavernas em toda a França e Espanha, tendo o principal exemplo na caverna de Chauvet.
Os desenhos em Chauvet são 10 mil anos mais velhos que em Lascaux e também menos comuns. Dentro da caverna, por exemplo, é possível ver a imagem de um rinoceronte com o chifre em oito lugares diferentes. No entanto, a figura se movimentaria dependendo da posição da chama de uma tocha, fazendo com que o animal levantasse ou abaixasse o chifre. Assim, podemos ver as primeiras tentativas humanas de se expressar artisticamente.