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10/05/2022 às 11:00•2 min de leitura
No Carnaval de 2022, a Escola de Samba Grande Rio celebrou o Exu como tema de seu samba-enredo, sagrando-se campeã deste ano. Contudo, a palavra Exu ainda desperta curiosidade, preconceitos e até medo em muitas pessoas. Entender a história e a mitologia por trás desse orixá é fundamental para entendermos a construção desses sentimentos.
A história de Exu começa na África, na mitologia Iorubá. Os iorubás pertenciam a um grande império africano que nasceu no norte do continente e que viveu seu apogeu no século XV. É por isso que as crenças religiosas desse povo se espelharam por muitas regiões desse continente.
Assim como as antigas religiões gregas e romanas, os iorubás tinham várias divindades. Essas divindades têm o nome de “orixá”. Exu é um desses orixás. Quando o povo africano começou a ser trazido para o continente americano, a religião dos iorubás deu origem a outros cultos. Os escravos que foram para o Haiti criaram o vudu; no Brasil, eles criaram o candomblé.
No Brasil, o culto africano foi duramente reprimido. Por isso, muitos escravos usavam santos católicos no lugar de seus orixás para realizarem seus cultos em paz. Iansã, por exemplo, era cultuada na figura de Santa Bárbara; Ogum era sincretizado com São Jorge, e assim por diante. Essa dualidade pode ser vista na história de O Pagador de Promessas, de Dias Gomes.
Nela, Zé do Burro faz uma promessa para Santa Bárbara em um terreiro de candomblé, pois não havia igreja dedicada à santa em sua cidade. Contudo, ao ser atendido, ele não consegue pagar a promessa em uma paróquia católica.
No entanto, ao contrário de outros orixás, Exu manteve seu nome e identidade em terras brasileiras — e isso pode ter prejudicado sua imagem junto aos cristãos.
(Fonte: Divulgação Riotur/ Fábio Mottas)
Basicamente, Exu é um orixá mensageiro que faz a ponte entre o mundo dos vivos, seus medos e desejos, e mundo sagrado dos orixás. A grosso modo, pode ser comparado com Hermes, o mensageiro dos deuses gregos.
Por ser um elo de comunicação entre os mundos, as oferendas para esse orixá são feitas em locais como entradas de cemitérios e encruzilhadas, que representam a ligação entre caminhos diferentes.
Na candomblé, Exu tem a personalidade mais próxima dos humanos, podendo ter atitudes vingativas. Essa interpretação não prevalece na umbanda, religião brasileira que mescla o espiritismo, o candomblé e rituais indígenas. A chamada “pomba gira” é uma versão feminina do Exu.
Trailer do filme "O Pagador de Promessas"
A Igreja Católica associou o orixá ao Diabo cristão, o que não faz muito sentido, pois, como vimos, as religiões tiveram origens completamente diferentes em todos os sentidos. Logo, o povo iorubá não construiu sua fé em contraponto ao cristianismo. Depois dos católicos, chegou a vez dos evangélicos pentecostais e neopentecostais associarem Exu ao mal descrito na Bíblia.
Tudo isso fez com que muitas pessoas desenvolvessem medo desse orixá, o mesmo que têm do demônio descrito pelo cristianismo.