Artes/cultura
07/06/2022 às 10:00•4 min de leitura
Em 31 de agosto de 1997, já fazia 1 ano que Lady Diana havia se divorciado do Príncipe Charles e estava namorando Dodi Al-Fayed. Naquela noite, o casal aproveitava seu jantar no famoso Ritz Hotel, em Paris. Havia planos de que eles trocassem alianças, porém, constantemente incomodados pela imprensa e outros clientes que não se aguentavam, eles decidiram deixar o local às 23h30, e retornar para o apartamento de Al-Fayed.
Durante a volta, o carro deles foi perseguido de maneira violenta por paparazzis que queriam fazer registros de um dos casais mais escandalosos do momento, principalmente pela maneira como o casamento real de Diana havia terminado. O uso de um veículo chamariz não foi o suficiente para despistar os fotógrafos, e o motorista Henry Paul dirigiu a quase 100 km, perdendo o controle do automóvel e colidindo em um pilar do túnel Pont de l’Alma. Paul e Al-Fayed morreram no local, mas a lendária Princesa Diana resistiu até 4h53, quando foi declarada morta no hospital Pitie-Salpetriere.
Em 6 de fevereiro de 2006, Britney Spears foi perseguida por quase 300 paparazzi até uma loja do Starbucks para obterem fotos dela com seu filho de apenas 6 meses, Sean Preston. Ela se escondeu esperando que o gerente a ajudasse, mas ninguém fez absolutamente nada enquanto ela era violentamente assediada pelos fotógrafos. As fotos desse dia foram vendidas por até US$ 100 mil.
(Fonte: TG Tourism/Reprodução)
Na década de 1950, Roma, na Itália, era onde tudo acontecia. Era o epicentro da moda, das casas noturnas, dos bares, cafés, restaurantes mais caros, e dos filmes. Ainda que a ensolarada Hollywood, na Califórnia, seja onde tudo era feito, Roma era o destino de todos.
A rua Via Veneto era o ponto de parada das celebridades que voavam para lá após horas em um estúdio de gravação, e onde os mais ricos se concentravam, de playboys a modelos deslumbrantes e magnatas vestidos com Gucci, então a grife considerada "uniforme" daqueles que tinham mais zeros na conta bancária do que os dedos conseguem comportar de uma só vez.
Com nomes como Audrey Hepburn e James Dean perambulando por lá, rapidamente, as ruas de Roma se tornaram alvo de grupos de fotógrafos afoitos que precisavam registrar essas pessoas em seu dia a dia, talvez em um almoço ou jantar com um novo interesse romântico que poderia causar um alvoroço imenso na mídia.
Jackie Kennedy na rua Via Veneto, em 1950. (Fonte: Another Magazine/Reprodução)
Conforme os editores das grandes revistas foram percebendo que esse tipo de fotografia não só chamava mais atenção dos assinantes, como vendia para novos públicos, a procura por elas cresceu exponencialmente, tanto quanto o pagamento oferecido.
Quando o fotógrafo Tazio Secchiaroli fotografou o rei Farouk do Egito em Roma, em 1958, chateado por estar sentado com duas mulheres, nenhuma das quais eram sua esposa, uma era se iniciava. A exigência por fotos mais espontâneas e comprometedoras aumentou, fazendo os paparazzis começarem ultrapassar todos os limites para obtê-las.
(Fonte: Another Magazine/Reprodução)
Em 1958, o produtor de cinema Federico Fellini estava construindo o enredo de seu filme A Doce Vida, que abordaria a autoindulgência, a vida na alta sociedade, preenchida por um vazio existencial e superficialidades dos famosos, quando entrou em contato com Secchiarioli. Sua intenção era moldar um personagem a partir dele, cujo nome seria Paparazzo, um fotógrafo com comportamento agressivo para conseguir uma boa captura.
(Fonte: Aenigma/Reprodução)
Assim que o filme foi lançado, em 1960, a profissão de Secchiarioli e de milhares de outros homens ganhou um nome definitivo, incluindo de Felice Quinto, famoso por ser "o rei dos paparazzi".
O tempo tornou a aproximação desses fotógrafos cada vez mais predatória e sem escrúpulos, com a intrusão agressiva para conseguir a melhor foto sendo praticamente uma necessidade da profissão.
(Fonte: Aenigma/Reprodução)
Quando a Hollywood ainda mantinha contratos que escravizavam suas estrelas, os paparazzi foram essenciais, ainda que intrometidos, para construir a carreira de estrelas em ascensão, afinal, bastava uma foto para que um nome fosse descoberto.
Muitos fotógrafos trabalharam em conluio com grandes estúdios, por vezes sem que os atores soubessem, para capturar momentos íntimos deles e vender para grandes revistas. Não importava qual situação fosse. Muitos agentes construíram situações para que as celebridades fossem pegas pelos paparazzis.
O que é chamado de "era de ouro dos paparazzi", começou no início dos anos 2000, quando eles se tornaram um verdadeiro tormento para suas vítimas, e também quando passaram a cometer crimes para obter seus registros, como invasão a propriedades privadas e assédio.
Tabloides, como o US Weekly, especializados em comprar fotos de paparazzis para construir narrativas distorcidas e extremamente sensacionalistas, ganharam as bancas dos EUA.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em entrevista à Rolling Stones, a publicitária sênior Jennifer Taylor disse que os paparazzis conseguiram capturar momentos que nunca seriam vistos pelo público comum, dando acesso às pessoas a algum tipo de "prazer voyeurístico".
Essa foi considerada a época mais lucrativa, os anos dourados, devido a nomes como Britney Spears, Paris Hilton e Lindsay Lohan, um dos alvos mais perseguidos pelos paparazzis devido ao apelo do público.
Uma imagem exclusiva poderia ser vendida por US$ 5 mil a US$ 15 mil, o que tornou do negócio algo muito lucrativo, gerando uma possibilidade de fazer dinheiro para muitas pessoas que só precisavam de uma boa câmera e coragem para ultrapassar qualquer limite.
Até houve apelos para que os paparazzis dessem um passo para trás, para que empresas pagassem menos pelas fotos e que não infringissem leis ou colocassem a si mesmos em perigo apenas por um clique —, mas não deu certo. A mídia queria dinheiro, e o público estava ávido por entretenimento.
A única coisa que deu um jeito em toda a indústria foi a ascensão das mídias sociais, em que as celebridades passaram a controlar a própria narrativa, liberando cliques exclusivos por vontade própria que nem o paparazzi mais ousado conseguiria.
A mídia impressa e digital até tentou acompanhar o passo, mas o preço pago pelas empresas diminuiu. Muitas agências de fotografia faliram ou fecharam, outras mudaram de ramo. Como resultado, os paparazzis foram de milhares de dólares por uma foto para apenas US$ 5 ou US$ 10. Exceções sempre existem, mas o negócio e a era dourada, naufragou em meio à crise financeira e a globalização da internet.