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20/06/2022 às 11:15•2 min de leitura
Em 1897, cerca de 20 soldados, dois oficiais e um repórter chegavam a uma cidade próxima do rio Yellowstone, nos Estados Unidos, com um objetivo muito específico: mostrar para os oficias do exército norte-americano que era possível e eficiente transportar tropas por meio de bicicletas.
Na época, um pouco antes do século XX e do surgimento dos automóveis, grande parte do mundo estava fascinada no ciclismo como meio de mobilidade e sobre como isso "revolucionaria" a sociedade. Oficialmente, esse grupo era conhecido como o 25º Regimento de Infantaria, mas foram posteriormente apelidados de Buffalo Soldiers.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A verdade por trás do 25º Regimento de Infantaria Cicloviário dos Estados Unidos é que esses homens faziam parte de uma das seis unidades segregadas racialmente pelo exército norte-americano logo após a Guerra Civil. Os alistados negros eram liderados por oficiais brancos e deveriam servir às fronteiras ocidentais do país.
Nessas regiões, eles eram responsáveis por entrar em confronto majoritariamente contra nativos-americanos, que teriam supostamente apelidado o grupo de Buffalo Soldiers devido à semelhança do cabelo encaracolado dos soldados com as jubas dos búfalos da região.
Acostumados a rodar o país de bicicleta, esses soldados chegaram a fazer expedições de 3 mil km de Fort Missoula, em Montana, até St. Louis, no Missouri. Quando chegaram a Big Timber, onde realizaram uma passeata de bicicletas para a população, eles não deveriam passar muito tempo, mas foram convencidos de que seria uma boa ideia por um taverneiro local.
(Fonte: Montana Historical Society)
Foram 41 dias atravessando o país de bicicleta. Eles tiveram que atravessar montanhas, florestas, desertos e rios, percorrendo estradas não pavimentadas e trilhos de trem para evitar a lama pegajosa. Cada dia era seguido de pelo menos 80 km de pedalada, alternando neve, granizo, chuva e calor forte.
A jornada foi considerada tamanha façanha que passou a ser reproduzida por todos os jornais nos EUA, que destacavam a tenacidade dos Buffalo Soldiers em um momento em que a sociedade norte-americana estava completamente dividida pelo racismo, seja nas forças armadas ou na sociedade fora do meio militar.
No final da jornada, que aconteceu no dia 24 de julho de 1897, cerca de mil ciclistas amadores e policiais montados escoltaram os soldados até St. Louis, onde foram recepcionados com um desfile e ovações. Estima-se que cerca de 10 ml pessoas foram visitar os Buffalo Soldiers. A expedição foi considerada um sucesso.
(Fonte: Montana Historical Society)
Após a missão de St. Louis, o tenente James A. Moss — quem mais estava interessado na expansão do sistema de ciclistas dentro do exército — esperava que fosse receber boas notícias do alto escalão militar dos EUA. Embora Moss continuasse a pressionar por mais expedições de bicicleta, os acontecimentos que sucederam à jornada de 1897 não foram ao seu favor.
Anos depois, os avanços tecnológicos vieram com tudo e as bicicletas já não pareciam mais uma solução tão eficiente assim. Além disso, a chega da Primeira Guerra Mundial mudou todos os planos. O exército decidiu dissolver o corpo de ciclistas ao perceber que a infantaria mecanizada era o futuro da guerra.
Em 1906, os Buffalo Soldiers foram colocados como culpados do Caso Brownsville, quando um civil branco foi morto em meio a um conflito armado. Embora os comandantes do regimento tenham dado o testemunho de que todos os homens estavam no quartel no momento do ataque, a opinião popular já havia lhes condenado.
Em 1908, o então presidente Roosevelt decidiu dispensar 167 soldados do 25º Regimento de forma desonrosa pelo caso. A decisão só foi revertida pelo Congresso em 1972, quando investigações trouxeram a verdade sobre o caso e autorizaram que as dispensas fossem feitas de forma honrosa e com pagamento indenização aos afetados sobreviventes e familiares.