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12/07/2022 às 04:00•3 min de leitura
Muita gente conhece o cantor Elvis Presley sob a alcunha de "Rei de Rock". O apelido se justifica pelo fato de que poucos artistas ficaram tão famosos cantando e dançando rock quanto ele.
Mas há muita discussão sobre a originalidade daquilo que Elvis fazia. Sabe-se que o rock and roll deriva diretamente do blues que artistas negros (talvez mais talentosos que o próprio Elvis) faziam antes dele. O que suscita a dúvida: será que Elvis Presley teria "roubado" aquilo que estava sendo criado por músicos negros?
Esta teoria se fortalece quando descobrimos que Hound Dog, um dos maiores hits de Elvis, havia sido gravado antes por uma mulher negra.
Willie Mae Thornton era uma cantora negra nascida no Alabama em 1926 que assinou um contrato com a Peacock Records em 1951. Ela se destacava das outras cantoras, inclusive visualmente: tinha quase um metro e oitenta de altura e 90 quilos, o que a fez ganhar o apelido de "Big Mama".
Big Mama apresentava-se usando paletó com gravata e botas de cowboy, mostrando uma imagem poderosa. Ao vê-la cantar, dois compositores chamados Jerry Leiber e Mike Stoller se inspiraram a criar uma música chamada Hound Dog, em 1952. Ela a gravou enfatizando um grunhido canino, uma vez que a música fala de alguém que está lidando com a frustração de ver um ex-namorado se relacionando com outra pessoa.
A música fez relativo sucesso em 1953, chegando a alcançar o primeiro lugar na lista de rhythm and blues da Billboard. Isto levou que muitos cantores fizessem suas versões da música, incluindo aqui Elvis.
Elvis grava a música em 1956, quando tinha 21 anos. A sua versão fez tanto sucesso que chegou ao topo da parada Billboard Hot 100, e lá permaneceu por 11 semanas.
Historicamente, a gravação de Elvis Presley passou a ser vista como o início do rock and roll, especialmente por conta do uso que fazia da guitarra como um instrumento principal.
Mas uma das coisas que mais chama a atenção nos registros das apresentações da música era a sua presença de palco, que logo cativou públicos imensos. Muitos críticos acreditam que ele copiava a atitude no palco de Big Mama Thornton.
Só que Elvis fez muito mais sucesso que Big Mama. Segundo Gayle Wald, professora de estudos americanos e literatura inglesa na Universidade George Washington, isso se deu, em parte, porque ele era um homem branco, o que lhe dava acesso a mercados musicais muito maiores.
Wald explica: “a história da música popular está repleta de exemplos de mulheres negras sendo empurradas para as margens”. Um exemplo disso se deu no início do blues. “As primeiras canções de blues que foram gravadas na década de 1910 foram registradas por cantores brancos. Não foi até 1920, quando Mamie Smith lançou Crazy Blues, que uma mulher negra realmente estava cantando uma música de blues. Mesmo que o blues fosse uma forma de arte afro-americana", pontua.
(Fonte: Esquina Musical)
Há muitas reportagens que discutem a forma pela qual Elvis Presley teria feito mais sucesso que artistas negros de sua época pelo simples fato de ser branco. Em 1994, Ray Charles fez uma crítica contundente a Elvis em uma entrevista na NBC: "dizer que Elvis foi tão grande e tão notável, como se ele fosse o rei... o rei de quê? Conheço muitos artistas que são muito melhores. Ele estava fazendo nosso tipo de música”.
A declaração gerou bastante repercussão, pois colocava uma nova camada sobre Elvis: que talvez ele não fosse simplesmente um gênio musical, mas um homem branco que lucrou muito copiando movimentos de artistas negros de sua época.
Há algumas informações sobre Elvis que talvez possam ajudar a esclarecer a questão. A primeira é que ele cresceu em um bairro pobre em Tupelo, no Mississipi, cuja população era majoritariamente negra. Ele frequentava igrejas negras em que a música gospel era tocada - e se tornou uma de suas grandes referências.
Elvis também desenvolveu uma forte amizade com BB King, o guitarrista lendário do blues. Ele conseguiu várias oportunidades para King que, em contrapartida, o defendeu das acusações de se apropriar de elementos da cultura negra. Em sua autobiografia, BB King escreveu: “Elvis não roubou nenhuma música de ninguém. Ele só tinha sua própria interpretação da música em que cresceu, o mesmo vale para todos. Acho que Elvis tinha integridade”.
Já Little Richard tinha uma visão diferente. Em 1990, ele declarou à Rolling Stone: "se Elvis fosse negro, ele não seria tão grande quanto era. Se eu fosse branco, você sabe o quão grande eu seria? Se eu fosse branco, poderia sentar no topo da Casa Branca! Muitas coisas que eles fariam por Elvis e Pat Boone, eles não fariam por mim".