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16/08/2022 às 11:15•3 min de leitura
A história guarda um papel de vilã para Joana Bolena, também conhecida como Viscondessa de Rochford ou Lady Rochford. Concunhada do rei Henrique VIII, ela tera tido um papel fundamental na queda de Ana Bolena, a segunda das seis esposas do rei.
Joana teria fornecido um testemunho contundente que fez com que seu marido George e sua irmã Ana Bolena fossem acusados de adultério e incesto em 1536. O relato teria sido motivado pelo ciúmes que ela tinha da relação próxima que George tinha com sua irmã Ana e fez colar nela para sempre um rótulo de esposa má e mentirosa.
Esta visão negativa de Lady Rochford foi abalada em 2007, quando uma biografia chamada Jane Boleyn: The True Story of the Infamous Lady Rochford, de Julia Fox, trouxe um retrato mais simpático dela. Mas agora, um novo livro escrito pela historiadora Sylvia Barbara Soberton traz mais evidências de que as cunhadas Joana e Ana talvez fossem mais próximas do que se imaginava anteriormente.
(Fonte: My London)
A obra, que se chama Ladies-in-Waiting: Women Who Served Anne Boleyn, defende a ideia de que o papel de megera traidora que foi reservado a Joana Bolena tem mais a ver com mito do que com realidade. “É difícil derrubar a opinião secular de Joana como acusadora de seu marido. Mas muito do que achamos que sabemos sobre ela acaba sendo um mito baseado na má interpretação do material original", explicou Soberton.
O argumento da historiadora se sustenta em um documento de outubro de 1535, quando um embaixador francês que “uma grande tropa de esposas de cidadãos e outras, desconhecidas de seus maridos, se apresentaram a Mary (filha de Henrique VIII do seu primeiro casamento com Catarina de Aragão) chorando e dizendo que ela era princesa, apesar de tudo o que havia sido feito”.
Nesta época, Henrique e sua filha Mary estavam brigados, e Mary se recusava a reconhecer a dissolução do casamento dos seus pais ou o seu novo status como chefe da igreja da Inglaterra, o que significaria um rompimento com a Igreja Católica. Mary foi deserdada na linha de sucessão quando a filha de Henrique e Ana Bolena, Elizabeth I, nasceu em 1533.
Ana passou então a ser vista como uma usurpadora, ao invés de uma rainha de direito. Ela se tornou extremamente impopular, especialmente porque Catarina de Aragão e Mary eram queridas pelos súditos. Joana Bolena e Katherine Broughton (esposa de um tio de Ana Bolena) começaram a ser reconhecidas como apoiadoras de Mary e detratoras da cunhada.
(Fonte: Smithsonian Mag)
Joana Bolena era de família católica, enquanto a família Bolena era defensora da reforma protestante. Ela chamou a atenção porque supostamente teria participado deste grupo que se manifestou a favor de Mary e contra o rei Henrique VIII, culminando em sua prisão na Torre de Londres.
Segundo Sylvia Barbara Soberton, talvez tenha havido uma interpretação equivocada sobre este ato. “A participação de Joana nesta demonstração é muitas vezes interpretada como um indicativo de que ela adotou uma posição de hostilidade em relação a Ana Bolena. Se ela se manifestou a favor de Lady Mary, isso ajuda a explicar por que ela testemunhou contra George e Ana Bolena, e se ela foi presa por isso, isso dá a vingança dela como motivo.”
Mas Soberton argumenta que, mesmo que Joana Bolena desaprovasse as novas reformas, ela provavelmente não estava entre as mulheres que se manifestaram contra Mary. "A crença errônea de que Joana acusou o marido deriva de um mito de que seu casamento foi infeliz – uma afirmação apoiada por rumores da reputação de George como mulherengo e pela sugestão da historiadora Retha M. Warnicke de que ele era bissexual ou gay. Na verdade, pouco se sabe sobre o relacionamento de Joana com George. Joana pode ter se ressentido com seus casos extraconjugais, embora uma fonte contemporânea deixe claro que ela era 'uma esposa honesta e casta'”, pontuou.
A historiadora ainda defende no livro a ideia de que Joana Bolena tinha poucos motivos para acusar seu marido George de crimes como incesto, porque isso a prejudicaria pessoalmente e ela perderia seus privilégios e seu status de classe. No entanto, Joana entrou para a cultura popular como uma traidora que levou à queda não só de Ana, mas de toda a família Bolena. George e outros quatro homens foram decapitados em 17 de maio de 1536 e Ana, no dia 19 de maio.