'Ghost weddings': a prática chinesa de se casar com mortos

22/08/2022 às 06:302 min de leitura

Casamentos acontecem na história da humanidade pelo menos desde 2350 a.C., de acordo com registros da Mesopotâmia. Deste momento em diante, os antigos hebreus, gregos e romanos foram responsáveis por evoluírem a união para uma instituição que em muito tinha laços políticos e de interesse.

Foi a Igreja que determinou, por meio da Bíblia cristã, que o casamento é uma união divina e que deveria acontecer por amor, confiança, paixão e companheirismo; não por qualquer outra razão que não religiosa.

A popularização desse "conto de fadas" reforçado pela sociedade não só construiu uma indústria como enalteceu a vida. No entanto, na China, essa união, algumas vezes, aconteceu no fim dela. Foi assim que surgiram os ghost weddings ("casamentos fantasmas" em inglês).

A tradição ancestral

(Fonte: Alyssa Richards/Reprodução)(Fonte: Alyssa Richards/Reprodução)

Faz parte da cultura ancestral chinesa acreditar que os falecidos compartilham das mesmas expectativas sociais que os vivos, e isso inclui a companhia de seu cônjuge no Além. Foi por isso que as pessoas durante a dinastia Shang, compreendida entre 1600 a.C. e 1046 a.C., se sacrificavam na maioria das vezes para acompanhar o parceiro(a) na vida após a morte.

Quando uma pessoa morria antes de poder se casar, os chineses decidiram inventar os "casamentos fantasmas", em meados do século XVII a.C., exatamente para que os cadáveres não ficassem "sozinhos" no Além.

(Fonte: Extra Online/Reprodução)(Fonte: Extra Online/Reprodução)

A tradição surgiu também em prol de um medo supersticioso de que o espírito dos mortos solteiros assombrariam a família, trazendo má sorte para casa por não terem desfrutado da oportunidade de estender sua linhagem; portanto, ninguém para honrar sua memória durante o anual Festival Qingming, popularmente conhecido como Dia da Varredura do Túmulo. 

Nele, as famílias dos falecidos limpam as ervas ao redor do túmulo, adicionam terra fresca e entregam comidas e bebidas favoritas do falecido como sinal de respeito. Tradicionalmente, essa é uma missão desempenhada pelos filhos do falecido.

Foi por isso que duas pessoas mortas começaram a ser casadas pela família. Normalmente, é a família do noivo que oferece um tipo de dote e paga a cerimônia e o enterro, pois os cadáveres dos noivos são exumados para a ocasião – uma cena, por vezes, perturbadora para os familiares. Mas também há casos em que uma pessoa viva é casada com alguém morto, porém os trâmites maritais acontecem em segredo.

Um hábito de poucos

(Fonte: Tribune India/Reprodução)(Fonte: Tribune India/Reprodução)

Quando o casamento entre um vivo e um morto acontece, a mulher casada com um cadáver fica viúva automaticamente, e passa a viver com a família de seu ex-noivo. No caso de uma mulher falecida, o homem precisa ficar conectado a falecida para sempre, ainda que se case com uma mulher viva, senão sofrerá azar.

Em Taiwan, a escolha de um noivo acontece através de um processo simples e discreto: a família da falecida coloca pacotes vermelhos com dinheiro e uma mecha de cabelo para atrair a atenção de um pretendente, que faz mais do que apenas uma escolha ao pegar o dinheiro, ele também se compromete para sempre.

Muito embora nem todos concordem com a tradição, muitas famílias fazem porque acreditam que os irmãos precisam se casar por ordem de idade. Ou seja, se o falecido tem irmãos mais novos, sua morte está impedindo os vivos de se casarem pacificamente.

Com o passar do tempo, os casamentos fantasmas se tornaram cada vez menos comuns, seja porque as famílias não se importam mais com as tradições, ou porque preferem respeitar a proibição formal feita por Mao Zedong, em 1949. 

Nas áreas rurais, porém, as cerimônias ainda acontecessem, fazendo crescer a indústria dos ladrões de túmulos, que continua tentando lucrar em cima do luto alheio e do sonho de um casamento como desejo não cumprido.

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