Frank Cullotta: o mafioso de Chicago que virou informante

Hollywood ajudou a popularizar — e até mesmo a glamourizar — a máfia durante muitas décadas. De O Poderoso Chefão a Scarface, famílias que realmente existiram e criminosos que foram inventados apenas para o cinema, foram extremamente populares durante muitos anos. E há um desses nomes que teve importância tanto para o crime organizado, quanto para a sua representação na telona: Frank Cullotta.

Um dos membros mais influentes do Chicago Outfit — o nome da máfia de Chicago — Cullotta também acabou fornecendo à polícia informações importantes sobre as atividades da máfia em Las Vegas, onde ele teve uma importante participação. Ele também foi uma das principais fontes para o livro Cassino, que em 1995 virou o filme de Martin Scorsese.

Entrando para a máfia

Foto de Tony Spilotro preso em Las Vegas, 1983.

Frank Cullotta nasceu em Chicago, no dia 14 de dezembro de 1938. Desde pequeno ele trabalhou como engraxate, após a morte do pai quando tinha apenas 8 anos. Foi assim que ele conheceu Tony Spilotro, outro garoto que reivindicava aquela região como sua. Os dois acabaram se tornando amigos e passaram a cometer diferentes crimes para a máfia de Chicago nos anos seguintes.

Mas foi em 1978 que a dupla ganhou influência quando Joey “The Clown” Lombardo convocou Cullotta para um trabalho. Nessa época, Spilotro vinha protegendo as operações de roubo de cassinos da Outfit em Las Vegas. Ele queria alguém de confiança como seu braço direito e, embora Cullotta tivesse resistido aos pedidos iniciais, Lombardo disse a ele que ele era o único em quem Spilotro confiava para isso.

A vida em Las Vegas

Frank Cullotta e a Gangue do Buraco na Parede em uma audiência em 1981.

Chegando na terra dos cassinos, Cullotta fez questão de formar uma equipe, e para isso levou antigos parceiros de Chicago com ele. Eles ficaram conhecidos como a Gangue do Buraco na Parede por entrar em relojoarias perfurando as laterais ou telhados dos edifícios. Spilotro e Cullotta tinham informantes sobre roubos em todos os lugares, desde funcionários do hotel até manobristas.

A situação começou a declinar para a dupla quando Sherwin “Jerry” Lisner apareceu pedindo proteção de Cullotta em um esquema de fraude que atraiu empresários de Las Vegas para Washington, D.C. Lisner acabou sendo indiciado, e seu advogado revelou a um dono de restaurante ele iria testemunhar contra alguns grandes gângsteres — como Spilotro e Cullotta.

Na noite de 11 de outubro de 1979, Lisner estava sozinho em sua casa, quando recebeu uma visita de Cullotta. O mafioso atirou várias vezes na cabeça dele e jogou seu corpo na piscina do quintal. Nos anos seguintes, o FBI começou a apertar as investigações para cima de Cullotta, que foi convencido a aceitar um acordo de cooperação.

O declínio e o cinema

Joe Pesci e Frank Vincent em 'Cassino'.

Esse foi o começou do fim para a máfia em Las Vegas. Spilotro estava tendo um caso com a esposa de Frank "Lefty" Rosenthal, um executivo de cassino, que também tinha relações com o crime organizado. O próprio Rosenthal sobreviveu a um carro-bomba em 1982 graças a uma placa de metal duro sob o banco do motorista — um evento fielmente recriado no filme Cassino.

Em 1986, Spilotro e seu irmão foram encontrados lado a lado em uma cova aberta em um campo de milho, brutalmente espancados até a morte. Spilotro foi interpretado por Joe Pesci em Cassino, e sua morte na vida real também foi retratada no filme. Cullotta foi condenado a oito anos de prisão, embora tenha cumprido apenas dois. Ele entrou no Programa de Proteção a Testemunhas.

Cullotta foi consultor técnico no filme de Scorsese e seu papel foi interpretado pelo ator Frank Vincent. Anos depois, ele criou um canal no YouTube chamado Coffee With Cullotta, onde ele contava algumas histórias da máfia em Las Vegas. Ele faleceu pacificamente em 20 de agosto de 2020.