Estilo de vida
02/09/2022 às 04:00•2 min de leitura
O pesquisador Robert Blust estava participando de um evento acadêmico em Jacarta quando viu no céu um arco-íris e apontou para ele para que os colegas também vissem esse fenômeno que sempre nos encanta. No mesmo momento, um dos seus colegas informou Blust que aquele gesto era considerado “perigoso” em uma antiga superstição local. Segundo tal crença, ao apontar para um arco-íris, o dedo da pessoa ficaria torto tal qual o arco celeste. Blust ficou com essa informação martelando na cabeça e passou os 40 anos seguintes pesquisando crenças relacionadas a arco-íris pelo mundo.
Apontar para um arco-íris é negativo em diversas culturas. (Fonte: Shutterstock)=
Assim que retornou para a Holanda, Blust decidiu investigar etnografias em busca de crenças semelhantes àquela que lhe fora apresentada em Jacarta. Logo, ele encontrou dados sobre a proibição de apontar para arco-íris na Índia. O pesquisador decidiu, então, chamar esse tipo de crença de “O tabu do arco-íris” e conforme a pesquisa se desenvolvia ele percebeu que ele não ocorria apenas no sudeste asiático.
Para coletar dados de outras culturas, Blust entrou em contato com colegas de diversas partes do mundo. Ao final da pesquisa, ele constatou que o tabu do arco-íris existia em 124 culturas ao redor do globo. Culturas que iam dos povos Atsuwegi e Lakota na América do Norte, aos Nyabwa da Costa do Marfim e aos Kaiwá do Brasil possuíam algum tipo de crença negativa em relação aos arco-íris.
Segundo o pesquisador, a superstição envolvendo o fenômeno celeste não estava presente em todas as culturas existentes no mundo, mas todas as regiões habitadas no planeta tinham alguma cultura na qual os arco-íris traziam malefícios aos humanos.
Arco-íris são sagrados em algumas culturas. (Fonte: Shutterstock)
As ideias mais comuns incluíam dedos sofrendo as consequências de terem sido apontados para o arco-íris: ele podia ficar dobrado para sempre, paralisado, cair, murchar, apodrecer ou inchar. Outras culturas diziam que o dedo receberia verrugas, feridas e até larvas. Para alguns povos, os malefícios recaíam sobre a mãe de quem apontava para o arco colorido.
Outro dado interessante é que na maioria das culturas o problema era apontar o dedo para o arco-íris, já que chamar atenção para o fenômeno usando a cabeça, nariz, ou a mão sem apontar, não trazia efeitos negativos. Além disso, algumas culturas previam medidas a serem tomadas caso você apontasse acidentalmente para um arco-íris: o remédio era molhar o dedo, colocá-lo na boca ou umbigo, ou até mesmo escondê-lo em uma pilha de esterco, segundo a tradição javanesa.
Blust propõem como motivos para o aparecimento dessas crenças o fato de que os arco-íris eram considerados sagrados e que o gesto de apontar é visto como um gesto agressivo em muitas culturas.