Estilo de vida
09/09/2022 às 11:30•2 min de leitura
Na realidade, a monarquia britânica, hoje, tem um poder muito mais simbólico do que real. No entanto, sua posição como um símbolo da Inglaterra (especialmente do passado) e do que o britânicos representam (ou gostariam que o restante do mundo pensasse deles) faz com que se mantenho no posto social que estão.
Porém, a morte da Rainha Elizabeth II na última quinta-feira gerou um misto de sensações, sendo recebida com chacota na Argentina, alegria na Irlanda e tristeza na Inglaterra. Mas afinal de contas, qual a função da monarquia na realidade do Reino Unido do século XXI? O que pensa a maioria da população? Entenda.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A monarquia segue sendo o sistema político britânico. Todavia, diferente de séculos passados, o Reino Unido é, hoje, uma monarquia constitucional, na qual o poder executivo é comandado por um primeiro-ministro. No caso atual, pela primeira-ministra Liz Truss, recém-empossada no cargo.
Já a falecida rainha Elizabeth II (e o agora rei Charles III) possuía um papel de chefe de Estado. Na prática, significa que ela, oficialmente, nomeava os ministros de Estado, convocava o Parlamento, sancionava as leis e era a comandante-em-chefe das Forças Armadas. Ou seja, um papel muito mais figurativo, já que seu poder foi sendo diluído ao longo dos tempos.
Logo, apesar de haver uma monarquia, o funcionamento do sistema político local seguia o parlamentarismo. Porém, quando pensamos em termos de representação do Estado Britânico, é a imagem da rainha que vinha à mente. Mesmo não tomando decisões, há no cargo um poder simbólico muito forte, com o qual a política local ainda é muito identificada.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Uma pesquisa recente conduzida pelo instituto Ipsos MORI descobriu que, para 86% dos britânicos, o Reino Unido deve continuar a ser uma monarquia. Isso contrasta com as reações à morte da rainha Elizabeth II. Apesar de terem sido majoritariamente de tristeza, em algumas regiões, como na Irlanda e Escócia, cidadãos comemoraram.
O mundo ainda sofre o impacto da crise econômica de 2009, potencializado pela pandemia de coronavírus, que estilhaçou as economias europeias. Então, é de se imaginar que o povo britânico viva uma sensação conflituosa, já que a coroa representa gastos vultosos ao bolso dos contribuintes.
Se a Família Real ainda é capaz de prender a atenção dos cidadãos (especialmente quando há escândalos reais envolvidos), os gastos e as mordomias são chocantes. No biênio 2020/2021, os monarcas receberam 85,9 milhões de libras, superior a todas as demais famílias reais do continente. A maior parte desse valor é destinada à administração dos palácios, custos de equipe, recepções oficiais e festas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A razão é principalmente ligada à identidade dos britânicos. O imaginário coletivo foi forjado a partir da ideia de uma monarquia forte, que liderou o Reino Unido ao posto de principal potência mundial por vários séculos. Mesmo com o esgotamento periódico dessa imagem e o poder mais alegórico, o ideal de nação ainda passa pela monarquia, como mostram pesquisas.
Com a ascensão ao trono de Charles III, fica a dúvida de como a população reagirá nos próximos anos. Isso porque uma pesquisa da Deltapoll, realizada a pedido do jornal Daily Mirror, mostrou que somente 27% dos entrevistados queriam o filho mais velho da rainha como chefe de Estado, sendo que 47% preferiam o príncipe William.
Além de maior simpatia ao primogênito do atual rei, herdado tanto da mãe quanto da avó, pesam os escândalos que envolveram o ex-Príncipe de Gales quando foi casado com Diana. As confusões protagonizadas pelo irmão mais novo, Harry, também ajudaram a fortalecer a imagem da coroa. Em algum sentido, foi como se o país tivesse sido atacado pelas acusações.
Mas não se pode deixar de considerar que acabar com a monarquia também envolveria muitos passos complexos. Sem interesse popular, dificilmente o Parlamento elaboraria uma lei, e muito menos o próprio chefe de Estado sancionaria algo neste sentido.