Artes/cultura
31/10/2022 às 08:30•2 min de leitura
Quando o ano de 1500 estava chegando ao fim, a Escócia via o diabo em todos os lugares. Para a sociedade da época, Satanás estava recrutando agentes secretos para atuarem sob suas ordens.
Esses cúmplices satânicos eram as bruxas, e as autoridades acreditavam que elas tinham que ser exterminadas. Entre as mulheres acusadas de bruxaria nesse período estava Agnes Sampson, uma senhora que confessou, sob tortura, conspirar contra a vida do Rei James VI.
Rei James VI da Escócia
O rei James VI estava numa viagem para a Dinamarca para buscar sua noiva, Ana da Dinamarca, em 1589. Durante o trajeto, as tempestades foram tão fortes que o rei foi forçado a voltar para a Escócia. James se convenceu que o terrível evento climático tinha sido obra das bruxas da pequena cidade de North Berwick, que desejavam sua morte.
Nessa época, a Dinamarca já estava adiantada nos julgamentos por feitiçaria. O rei James VI sabia disso e tomava notas da situação, então, quando lhe contaram que bruxas na região de East Lothian tinham conspirado para provocar o clima traiçoeiro que ameaçara sua vida e a de sua noiva, ainda criança, ele acreditou.
As bruxas de North Berwick encontram o diabo. (Fonte: Historic UK/ Reprodução)
Agnes Sampson vivia perto da pobreza em East Lothian. Era conhecida localmente como uma excelente parteira e curandeira, inclusive, salvou a vida de vários de seus vizinhos.
Viúva e com vários filhos, Agnes já havia sido suspeita e investigada por bruxaria antes. Então, quando seu nome apareceu novamente, não houve surpresa. Após ser apontada como bruxa, ela foi capturada e, claro, protestou sua inocência.
O The Newes from Scotland, um panfleto de 1591 veiculado em Londres, conta que Agnes foi completamente raspada, e cada parte de seu corpo foi amarrada e apertada por horas a fio por cordas, causando uma dor intensa.
Após as torturas, seus perseguidores, sob as ordens do rei James VI, encontraram a marca do Diabo em seu corpo. Desolada, torturada e com o espírito quebrado, Agnes acabou confessando que ela e outras bruxas estiveram em North Berwick na noite de Halloween para um encontro com o Diabo.
Dezenas de mulheres foram queimadas na caça às bruxas do rei James VI. (Fonte: Shutterstock)
A confissão sob tortura de Agnes Sampson foi uma história altamente detalhada que envolvia um coven com cerca de 200 bruxas. Segundo Sampson, todas elas haviam encontrado o Diabo.
Agnes ainda relatou que o príncipe do inferno as tinha instruído a usar feitiços, assim como jogar um gato morto amarrado a ossos de um homem morto no mar para criar a tempestade que pretendida destruir o navio do rei em sua volta para a Escócia com sua noiva.
Aparentemente, o Diabo tinha deixado claro às bruxas que o rei era seu maior inimigo no mundo.
Em seu julgamento, Agnes foi culpada de 49 das 51 acusações. Entre elas, a de curar crianças gravemente doentes, curar uma mulher que andava de muletas desde que nasceu e de curar a esposa de um xerife que havia sido enfeitiçada pelo vento. Até foi acusada de curar uma pessoa que tinha sido amaldiçoada por outra bruxa.
Depois de muito sofrer na mão dos seus algozes, em 28 de janeiro de 1591, Agnes foi levada ao Castelo de Edimburgo. Ali, foi estrangulada até a morte e seu corpo foi queimado em uma fogueira.
Agnes Samson foi apenas uma das mais de 100 pessoas presas, interrogadas, torturadas, acusadas e mortas durante os famosos julgamentos das bruxas de North Berwick. Obviamente, graças as torturas brutais e prolongadas é que as confissões surgiam.
Nesse período, cerca de 4 mil pessoas foram queimadas vivas na Escócia por feitiçaria. Um número considerado enorme dado o tamanho da população do país naquela época.