Artes/cultura
31/10/2022 às 13:30•2 min de leitura
Hoje em dia, nós temos à disposição vários tipos de narrativas seriadas audiovisuais à disposição para assistir nos momentos em que queremos nos distrair. Os catálogos de streaming nos oferecem uma oferta gigantesca de séries, mas há muita gente que continua acompanhando as tradicionais telenovelas na TV aberta.
Mas quais são as principais diferenças entre estes dois produtos de entretenimento? Há várias particularidades em cada um deles, e que vão muito além da duração. Neste texto, contamos 4 diferenças entre os dois formatos.
(Fonte: UOL)
Para começar, as novelas e as séries têm uma organização estrutural bem diferente. O aspecto mais óbvio é o jeito que a história é entregue aos espectadores. As novelas compreendem uma história apresentada ao público de uma única vez, em capítulos sequenciais (normalmente, entre 100 e 200) sem quebra entre eles. Já as séries são produzidas em temporadas (normalmente anuais) que podem ir de menos de 8 a mais de 20 episódios.
Isto vai impactar na forma em que as histórias são contadas. A cada temporada de uma série, é preciso planejar as maneiras pelas quais a trama, depois de um ano, será recapitulada e contada ao espectador. Toma-se em consideração também que as séries, muitas vezes, são maratonadas (vistas de uma só vez), enquanto as novelas, ao menos tradicionalmente, são assistidas conforme são entregues pelas emissoras - ou seja, um capítulo por dia.
(Fonte: Netflix)
Como dissemos, as novelas têm muito mais episódios que as séries e são transmitidas em uma periodicidade diária. Isto vai influenciar a maneira pela qual as tramas serão desenroladas ao longo de meses. É comum que as novelas tenham mais personagens, mais histórias paralelas (os chamados núcleos) e que, em certos momentos, pouca coisa pareça acontecer na narrativa - ocorrendo, neste caso, a chamada "barriga".
As séries, por outro lado, por serem mais compactas, tendem a ser mais sucintas e concentradas em menos personagens. Por serem organizadas por temporadas, é necessário que cada uma delas tenha uma trama clara e conectada com o objetivo central da história.
(Fonte: IGN)
As novelas, grandes produtos de exportação da cultura brasileira, são planejadas para que possam ser consumidas por grandes públicos. A Globo, por exemplo, tradicionalmente traz 3 novelas inéditas no seu cardápio diário, transmitidas para um público gigantesco. Isto significa que elas precisam ser acessíveis e compreensíveis, em alguma medida, por pessoas de diferentes faixas etárias, ideologias ou camadas sociais.
As séries, como sabemos, investem mais na segmentação. O cardápio oferecido pelas grandes produtoras varia imensamente: há as séries dramáticas tradicionais, que até lembram novelas, as de ficção científica, os thrillers, as de horror, as comédias, as voltadas a públicos específicos, etc.
(Fonte: Globo)
Por fim, um aspecto histórico muito importante. Muitas vezes, a palavra "folhetim" é usada como um sinônimo de telenovela. E sabe por quê? Porque as novelas são descendentes dos folhetins, as narrativas literárias surgidas na França no século XIX e que eram inclusas nos jornais, e que tinham como objetivo cativar o público (principalmente as mulheres) para a leitura dos capítulos e para a compra do jornal no dia seguinte.
Para isto acontecer, as histórias contadas nos folhetins precisavam ser dramáticas, exageradas, e facilmente compreensíveis. Há aqui também uma relação com o melodrama, que surge como um espetáculo teatral produzido para as grandes massas, em que tudo precisa ser muito explícito (o choro, a dor, a alegria) para que todos possam compreender.
Ainda que as séries também recorram a recursos do melodrama, as novelas são "filhas" diretas deste gênero, e costumam ser projetadas por histórias com poucas sutilezas: personagens muito complexos ou ambivalentes, por exemplo, tendem a não funcionar tão bem nas novelas, que precisam comunicar com todo mundo e não correr o risco de deixar ninguém de fora.