El Trinche Carlovich: o jogador que impressionou Pelé e Maradona

Em 19 de abril de 1946, uma lenda desconhecida do futebol nascia em Rosário, na Argentina. Seu nome era Tomás Felipe "El Trinche" Carlovich, um meio-campista que vestia a camisa número cinco, mas tinha todo o potencial do mundo para ser camisa 10. Ao todo, ele teve apenas quatro partidas na primeira divisão do futebol argentino, saindo machucado em três desses jogos. 

Mesmo com um repertório tão pequeno, acabou recebendo uma camisa das mãos de Diego Armando Maradona com a seguinte frase: "você foi melhor do que eu". Se não bastasse ter chamado a atenção do maior ídolo do futebol argentino, anos depois também despertaria o interesse de Pelé. Conheça mais sobre a história desse craque anônimo nos próximos parágrafos!

Primeiros chutes no futebol

(Fonte: Central Córdoba de Rosário/Divulgação)

Durante sua carreira, El Trinche sempre jogou em clubes de divisões inferiores na Argentina. Seu feito mais orgulhoso era ter servido seu clube do coração, o Central Córdoba de Rosário. Foi definido por jornalistas de várias maneiras diferentes, desde "personagem de conto" a "boêmio habilidoso".

Sua história é tão intrigante que virou enredo de livro, peça de teatro e inúmeras reportagens. Ele começou sua jornada no futebol jogando peladas em campos improvisados e demonstrando todo o seu talento em times pequenos. No "terrão", conquistou a atenção do Rosário Central, onde jogaria em 1970.

Sua primeira oportunidade na primeira divisão viria ali, mas jogou apenas uma partida e saiu revoltado com os dirigentes. Só voltaria para um time grande sete anos depois, sendo contratado para jogar como meio-campista do Colón de Santa Fé. Porém, saiu machucado nas três partidas que teve chance de entrar.

Amostra de potencial

(Fonte: Central Córdoba de Rosário/Divulgação)

A chance de ouro de El Trinche surgiu em abril de 1974. No dia 17 daquele mês, a seleção argentina disputou um amistoso contra a seleção regional de Rosário diante de uma plateia de 35 mil pessoas, no estádio do Newell's Old Boys. O evento serviria como preparatório para a Copa do Mundo da Alemanha. 

Surpreendentemente, o time de Rosário passou a dar um "baile" nos selecionáveis. Reza a lenda que o técnico da Argentina, Vladislao Cap, pediu para que a seleção regional retirasse Carlovich de campo para evitar maiores constrangimentos — ele foi substituído aos 60 minutos, quando o placar estava 3 a 0.

Segundo os boatos, diversos técnicos argentinos passaram a desejar o talento de El Trinche em suas equipes, mas ele não tinha mais o desejo de sair de Rosário e passou a recusar vários convites. 

Relação com lendas

De acordo com as histórias contadas sobre Carlovich, ele teria recebido uma proposta do Milan, da Itália, quando ainda jogava no Independiente Rivadavia, um time da série B argentina. Além disso, ele teria recebido cartas do próprio Pelé para que fosse jogar no New York Cosmos, dos Estados Unidos.

O encontro com o histórico camisa 10 do Brasil nunca aconteceu, mas algo tão marcante quanto estava por vir. Em 1993, quando Maradona voltou ao futebol argentino para jogar pelo Newell's Old Boys, o autor da "mão de Deus" disse algo marcante. "Sempre achei que era o melhor do mundo, mas desde que cheguei a Rosário escuto maravilhas sobre um certo Carlovich. Então, agora eu não sei mais", declarou à imprensa local.

Os dois foram se conhecer pessoalmente apenas em 2020, quando El Trinche conseguiu fazer com que Maradona autografasse uma camisa do Central Córdoba para ele. Meses depois do encontro, o anônimo craque argentino faleceria vítima de espancamento após uma tentativa de roubo de bicicleta. Sua história nos gramados pode não ter sido a mais emblemática de todos os tempos, mas certamente deixou lembranças inesquecíveis pelos lugares onde passou e pelas pessoas que conheceu em vida.