França x Marrocos: como a História já viu esse embate?

13/12/2022 às 10:503 min de leitura

A campanha da seleção de Marrocos na Copa do Mundo 2022, disputada no Qatar, tem impressionado muitos amantes de futebol no mundo inteiro. Durante as oitavas de final da maior competição de futebol do planeta, os africanos derrotaram a Espanha. Já nas quartas, os marroquinos mandaram Portugal, de Cristiano Ronaldo, de volta para casa.

Nessa quarta-feira (14), no entanto, o adversário será ainda mais difícil: a França, os atuais campeões do mundo. O que muitas pessoas não sabem, no entanto, é que essa não é a primeira vez que os árabes tiveram um conflito direto contra os membros da Península Ibérica na história, algo que remete à década de 710 d.C. Entenda o histórico do confronto.

Avanço muçulmano na Europa

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

O assunto pode não ser futebol, mas Marrocos já enfrentou os países da Península Ibérica no passado de certa forma. Poucas guerras na histórica islâmica foram tão decisivas ou influentes quanto a conquista muçulmana na região por volta do ano 710 d.C., quando o exército muçulmano chegou à costa sudoeste da Europa.

Em 720, a Península Ibérica já estava basicamente inteira sob controle muçulmano. Para entender o conflito completamente, no entanto, precisamos voltar para antes do nascimento do profeta Muhammad em 570. Embora hoje os cristãos acreditem na chamada Divina Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), nem sempre tudo foi assim. 

Dentro da Igreja Cristã primitiva existiam dois grupos: aqueles que aceitaram Jesus como o filho de Deus (os trinitários) e aqueles que o viam simplesmente como um profeta (os unitários). Para o governo romano, a distinção entre os grupos não importava, visto que os dois grupos foram oprimidos na primeira década d.C.

Tudo isso mudou entre os anos 200 e 300, quando o pregador unitarista, Arius, começou a acumular muitos seguidores entre pessoas no norte da África. Por pregar que Jesus era apenas um profeta de Deus, passou a sofrer forte oposição dos trinitários. Apesar da forte oposição, suas crenças se firmaram em sua terra natal, a Líbia, e basicamente em todo o norte da África.

Mudanças na Península Ibérica

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Enquanto Arius fortalecia os unitaristas, quem assumiu o comando do Império Romano foi Constantino, o líder lembrado por mudar a capital da potência para Constantinopla — a atual Istambul — e conseguir derrotar algumas tribos bárbaras que atacavam Roma pelo norte.

Nesse mesmo período, Constantino tomou conhecimento da Igreja Cristã Trinitária, que lhe prometeu perdoar todos seus pecados se ele se convertesse ao cristianismo. Foi assim que o comandante romano percebeu que poderia usar a Igreja para se fortalecer politicamente, passando a promover a visão trinitária do cristianismo e oprimir violentamente os unitaristas como Arius. 

Os unitaristas, que já eram maioria no norte da África e na Península Ibérica, foram oficialmente banidos das terras romanas e forçados a praticar suas crenças de forma clandestina. Em certo ponto, Constantino chegou a ordenar que todos os documentos unitários fossem queimados e que Arius fosse exilado. 

Entrada do islamismo na Espanha

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Não foi apenas na Copa do Mundo 2022 que os espanhóis foram colocados de costas para a parede contra os guerreiros muçulmanos. Por volta dos anos 600, o exército muçulmano passou a se mostrar presente nas bordas da região que havia sido parte do Império Romano. Ao mesmo tempo, os unitaristas do Norte africano perceberam que tinham muito em comum com essa nova religião e decidiram se aliar.

Ambos acreditavam na unicidade de Deus e no fato de que Jesus era um profeta, somado ao desejo de combater a postura trinitária oficial da Igreja Cristã. Foi assim que a maior parte dos países da região se converteu ao islamismo nessa época. Começando pela Espanha, os muçulmanos decidiram invadir a Península Ibérica nos anos 700 e derrubar o rei visigótico Roderic, que era visto como um tirano pelo seu povo.

Em 711, Roderic foi morto pelas forças armadas comandadas por Tariq ibn Ziyad, um dos líderes muçulmanos no norte da África. Isso abriu portas para que a costa sul da Península Ibérica fosse tomada pelo exército muçulmano e permitisse uma expansão do islamismo na região.

Batalha de Poitiers

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Se Marrocos agora esbarra na França na Copa do Mundo 2022 depois de ter superado Espanha e Portugal, um contraponto semelhante se deu com o exército muçulmano após a expansão islâmica na Península Ibérica em 710. Em 732, a Batalha de Poitiers, também conhecida como a Batalha de Tours, foi considerada o marco final da expansão muçulmana na Europa medieval.

Em 731, o exército muçulmano estava se preparando para uma grande campanha na Gália — hoje França —, começando por uma invasão do reino sul da Aquitânia. Os árabes eram comandados pelo senhor de guerra Abd al-Rahman, quem proporcionou a queda de Bordeaux no ano seguinte. 

O próximo passo seria marchar para a cidade fortificada de Tours, que o prefeito do palácio de Paris, Carlos Martel, preparava-se para se defender. Al-Rahman tinha mais soldados, mas o franco tinha um núcleo sólido de infantaria pesada blindada experiente para se proteger da cavalaria muçulmana. 

Sem conhecimento da região e desesperados para encerrar o conflito rapidamente, os muçulmanos foram derrotados rapidamente. Reza a lenda que al-Rahman morreu lutando bravamente ao lado de outros 25 mil soldados. Em 735, então, o neto de Martel, Carlos Magno, reconquistaria a Península Ibérica. Será que os árabes esbarrarão nos franceses mais uma vez no jogo de quarta-feira (14) ou dessa vez Marrocos conseguirá "vingar" os povos muçulmanos, conquistando a primeira final de um país africano em Copas do Mundo?

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: