Epopeia de Gilgamesh: a obra sobre o Dilúvio escrita antes da Bíblia

25/12/2022 às 13:004 min de leitura

Cristão ou não, religioso ou não, a maioria das pessoas já ouviu ou leu algo a respeito sobre o dilúvio relatado no primeiro livro da Bíblia. O capítulo 7 do Gênesis, no livro sagrado dos cristãos, relata como Noé construiu uma arca para a salvar sua família e aos animais das águas que iriam cair dos céus e devastar a Terra.

De acordo com os versículos 11 e 12 do referido capítulo, “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram. E houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.”

Mas você sabia que uma das histórias mais famosas da Bíblia já havia sido contada muito tempo antes e com outros personagens?

Sumérios

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

A Epopeia de Gilgamesh é considerada uma das histórias ou obras escritas mais antigas do mundo por muitos especialistas. Para se ter ideia, as “primeiras” versões datam de 2000 a.C., escritas no modelo cuneiforme dos sumérios.

Outros registros começaram a aparecer em 700 a.C., escritos na língua acadiana. Já a versão “completa” considerada padrão, e que traz a história do mito do dilúvio, é datada de 1300 a.C.–1000 a.C. Porém, também temos uma versão babilônica, ainda mais antiga, a contar sobre o dilúvio, de cerca de 1646 a.C.–1626 a.C. Pelo visto, o “compartilhamento de arquivos” e o plágio são tão antigos quanto a própria escrita.

Muito se fala sobre a possibilidade de a Epopeia de Gilgamesh ter inspirado o dilúvio bíblico. Afinal, estamos falando de um texto extremamente antigo. A título de comparação, acredita-se que Abraão, considerado o primeiro “judeu” e o pai da "Nação de Israel", tenha vivido entre 1900 a.C. e 1.800 a.C., e que o Êxodo liderado por Moisés acontecido entre 1500  a.C. e 1200 a.C.

Para a maioria dos estudiosos de civilizações antigas, a civilização teria começado na Suméria, ou Mesopotâmia, como os gregos denominaram mais tarde a região, por volta de 6000 a.C.. Em determinado período da história, a Babilônia se tornou a cidade suméria/mesopotâmica mais famosa. Estava bem no coração do Iraque moderno, entre os rios Tigre e Eufrates.

(Fonte:Shutterstock)(Fonte:Shutterstock)

As primeiras cidades estado surgiram por volta de 4000 a.C., enquanto a invenção da escrita ocorreu em torno de 3500 a.C.

A Epopeia de Gilgamesh apareceu mil anos antes de Homero. Ou seja, estamos falando de uma história mais velha que a Odisseia ou a Ilíada, e ainda mais antiga que os primeiros textos achados do Antigo Testamento.

As comparações

(Fonte:Shutterstock)(Fonte:Shutterstock)

Desde meados do século XIX, quando a Epopeia de Gilgamesh foi descoberta nas ruínas de uma grande biblioteca da antiga Nínive (Assíria), ela atrai o interesse de cristãos, especialmente devido ao dilúvio universal narrado na história com seus paralelos surpreendentes com o dilúvio dos tempos de Noé.

O resto da Epopeia, possivelmente do terceiro milênio a.C. não tem muito valor para os cristãos, já que envolve mitos politeístas associados aos povos pagãos da época. Aliás, os créditos pela tradução dos textos antigos ficam com Henry Rawlinson e George Smith, que se dedicaram a descobrir o que estava inscrito nas tábuas antigas.

Ao longo do tempo, muitos estudiosos cristãos analisaram esses textos e as ideias da criação, da vida e da morte apresentadas no épico. Até mesmo estudiosos literários seculares reconhecem os íntimos paralelos entre os escritos babilônico, fenício e hebraico. Embora nem todos eles estejam dispostos a rotular tais conexões como algo a mais que um simples compartilhamento de mitologias.

Quando o assunto envolve inundações, diversas histórias relatando dilúvios já foram identificadas em fontes diversas espalhadas pelo mundo. Algumas são tão antigas quanto a Epopeia de Gilgamesh ou o Velho Testamento, mas o interessante é que esse tema parece estar presente em crenças e mitologias de várias culturas.

A história

(Fonte:Shutterstock)(Fonte:Shutterstock)

A Epopeia de Gilgamesh foi escrita em forma de poema. Obviamente, temos Gilgamesh como personagem principal. Curiosamente, ele pode ter sido uma figura real. A Lista de Reis Sumérios tem um Gilgamesh pertencente a primeira dinastia de Uruk. Ele teria reinado por 126 anos, o que não é uma surpresa quando comparamos com a idade dos patriarcas bíblicos antes de dilúvio.

Um aspecto interessante é que, após Gilgamesh, os reis começaram a ter um tempo de vida normal em comparação com os dias atuais. Algo semelhante também acontece na Bíblia, com o tempo de vida diminuindo de geração em geração após o dilúvio.

A Epopeia de Gilgamesh tem início com a apresentação dos feitos do rei-herói. Os escritos dizem que ele detinha grande sabedoria e preservou informações dos dias que antecederam ao dilúvio.

Conforme os textos, Gilgamesh escreveu tudo o que havia feito em tábuas de pedra, incluindo a construção da cidade Uruk e o templo para Eanna. O problema é que seus súditos o consideravam um governante opressor, então, pediram aos deuses que arrumassem um inimigo para atrapalhar a sua vida.

Então, eis que surge Enkidu, o tal inimigo de Gilgamesh. Contudo, depois de uma luta, Enkidu se torna o melhor amigo do rei. A partir daí, ambos partem para aventuras perigosas em busca de glória e fama. O amigo de Gilgamesh acaba morrendo em uma delas e isso faz com que o rei busque a todo custo encontrar a imortalidade, visto que agora temia a morte.

Epopeia termina com histórias sobre o mundo dos mortos. (Fonte:Shutterstock)Epopeia termina com histórias sobre o mundo dos mortos. (Fonte:Shutterstock)

Nessa busca, ele conhece um sujeito chamado Utnapishtim, o personagem da Epopeia de Gilgamesh que mais se assemelha ao Noé bíblico. Em resumo, é Utnapishtim quem se torna imortal após construir um navio capaz de resistir ao Grande Dilúvio que destruiria a humanidade. Ele também colocou todas as espécies de animais a bordo. E, tal como na história da Bíblia, Utnapishtim soltou pássaros para encontrar terra seca. Após o dilúvio o navio acabou parando no topo de uma montanha. Mais uma relação com a arca de Noé que, supostamente, encalhou no monte Ararate (atual Turquia).

Em linhas gerais, pode-se dizer que a Epopeia de Gilgamesh é uma história de três homens: começa com o próprio rei Gilgamesh, depois passa para sua briga/amizade e aventuras com Enkidu, e chega a Utnapishtim, com seu navio para enfrentar o dilúvio. O poema acaba com alguns contos sobre a visita de Enkidu ao submundo.

Mesmo considerando as muitas semelhanças entre as duas histórias, a Epopeia e o Gênesis da Bíblia, existem sérias diferenças comparando ambas. Mas isso já é outra coisa.


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