Europeus recompensavam quem entregasse escalpos de indígenas

02/03/2023 às 06:302 min de leitura

Quando a colonização sistemática da América começou, após 1492, começava o maior genocídio da História. Os povos nativos indígenas foram caçados, assassinados, estuprados e escravizados em larga escala; resultando na destruição de sua identidade e cultura, além de um deslocamento tão massivo que muito da história foi perdida ao longo do caminho.

Em 1491, cerca de 145 milhões de pessoas viviam no hemisfério ocidental, e em 1691, a população de indígenas americanos havia diminuído de 90 a 95%, uma baixa de cerca 130 milhões de pessoas.

(Fonte: History/Reprodução)(Fonte: History/Reprodução)

Da mesma forma que a palavra racismo e a própria ideia de raça foram frutos do colonialismo, outras palavras que entraram na cultura e no dicionário carregam uma bagagem histórica aberrante, um exemplo disse é a palavra escalpo.

Isso porque os governantes europeus deram recompensas para aqueles que tirassem o escalpo dos povos nativos americanos.

A origem do horror

(Fonte: Twitter/Reprodução)(Fonte: Twitter/Reprodução)

O verbo escalpelar ("to scalp") surgiu no inglês americano em meados de 1675, durante o sangrento episódio conhecido como "A Guerra do Rei Philip", um conflito armado entre povos indígenas da Nova Inglaterra e colonos com alguns aliados também indígenas, que começou com o julgamento e execução de três homens do chefe tribal Metacomet, conhecido pelo seu título e nome ingleses, "King Philip".

Até aquele momento, os europeus usavam uma variedade de palavras equivalentes que não transmitiam exatamente o significado da prática de arrancar o couro cabeludo de seu inimigo. Apesar de registros arqueológicos fornecerem uma ampla evidência de que o escalpelamento já acontecia na pré-história, a prática foi mesmo absorvida e difundida pelos exploradores europeus ao longo de toda a América, sobretudo na costa leste da América do Norte.

(Fonte: History Collection/Reprodução)(Fonte: History Collection/Reprodução)

Foi criada uma verdadeira cultura bárbara ao redor da prática, incluindo danças de escalpelamento, preparação de escalpos e o uso deles como troféu em cenários de guerra. Foi o que aconteceu quando os Narragansett foram derrotados na Guerra do Rei Philip, com o escalpo do chefe da tribo sendo exibido para os perdedores.

Assim ficou claro que o escalpelamento foi uma prática apropriada e subvertida pelos colonos, visto ser parte integrante da guerra intertribal em algumas áreas da América, onde o objetivo era tirar o escalpo inimigo morto em batalha para reforçar seu poder. Os colonos, no entanto, ao fazerem isso, reforçaram a instituição da colonização e soberania de um povo sobre o outro.

Apropriação e subversão

(Fonte: Journal of the American Revolution/Reprodução)(Fonte: Journal of the American Revolution/Reprodução)

Os governos europeus adotaram a prática de escalpelamento e a disseminaram pelo mundo, chegando a oferecer recompensas para encorajar o assassinato de nativos americanos e a incursão de colonos europeus em seu território. Esse aval piorou as relações ainda mais e criou diversos conflitos nas terras habitadas pelos indígenas.

Em um documentário produzido por membros da nação Penobscot, o filme Bounty destacou uma proclamação feita por Spencer Phips, o então vice-governador da província da baía de Massachusetts, em 1755, que, em nome do Rei George II, ofereceu recompensas monetárias pela morte do povo Penobscot.

Para cada prisioneiro indígena do sexo masculino acima de 12 anos, eras oferecido 50 libras pelo escalpo. Para cada couro cabeludo coletado e trazido como evidência da morte, o preço era 40 libras. Para crianças de ambos os sexos, o valor chegava a 20 libras.

O documentário conseguiu mapear mais de 70 outras proclamações que encorajaram a matança sistemática de nativos americanos no território da Nova Inglaterra.

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