Estilo de vida
17/03/2023 às 13:00•2 min de leitura
Você já deve ter ouvido que muitas tendências do mundo da moda fazem mal à saúde — e isso não é de hoje. No século XIX, milhares de mulheres foram queimadas vivas por usarem as roupas da moda da época: as saias de crinolina.
Essas saias tinham todos os elementos necessários para causarem acidentes. Elas contavam com uma grande estrutura de madeira, aço ou vime que servia para suportar as camadas de tecido, como se fosse uma gaiola. Ao mesmo tempo, essa estrutura criava imensos bolsões de ar que tornavam as saias altamente inflamáveis.
(Fonte: Studhistoria)
Além disso, elas eram de tecido, um material que pega fogo com facilidade. Aliás, elas tinham muitas camadas de panos. Bastava uma chama e as mulheres incendiavam em segundos.
Por fim, as saias de crinolina eram enormes, chegando a mais de 5 metros de extensão. Isso dificultava a mobilidade de quem as usava e contribuía para que acidentes ocorressem — e pior, dificultava o socorro, pois era muito complicado remover a saia a tempo de salvar quem a usava.
Emily e Mary Wilde foram vítimas de suas saias. (Fonte: Wellcome Library, London/CC BY 4.0)
As mortes causadas por essas vestimentas renderam relatos assustadores. Em um deles, as irmãs do renomado escritor Oscar Wilde, Emily e Mary Wilde, foram queimadas vivas durante uma festa de Halloween em que estavam na Irlanda.
Uma delas encostou a saia na chama de uma vela e as chamas se espalharam rapidamente pela roupa. Na tentativa frustrada de salvar a irmã, a outra também foi queimada. Isso ocorreu no ano de 1871.
Fanny Longfellow, esposa do poeta Henry Wadsworth Longfellow, também foi vítima das saias de crinolina. Sua morte foi ainda mais trágica, pois ocorreu na frente de seus filhos. A morte foi noticiada pelo jornal The New York Times.
“Um triste acidente, que se revelou fatal na manhã de ontem, aconteceu com a Sra. FANNY LONGFELLOW, esposa do Prof. HENRY W. LONGFELLOW, em sua residência em Cambridge, na tarde de terça-feira. Enquanto estava sentada à mesa da biblioteca, fazendo selos para o entretenimento de seus dois filhos mais novos, um fósforo ou pedaço de papel aceso atingiu seu vestido e ela foi envolvida em chamas por um momento. O Prof. LONGFELLOW, que estava em seu escritório, correu para ajudá-la e conseguiu extinguir as chamas, com ferimentos consideráveis para si mesmo, mas tarde demais para salvar a vida dela”, diz a reportagem do dia 12/07/1961.
Levantamentos feitos em documentos da época estimam que ao menos três mil mulheres foram queimadas vivas por causa de suas saias. A recorrência dos acidentes era tema de reportagens da BBC e de jornais americanos, como The New York Times. Os jornais estimavam até três mortes por semana.
Após a Guerra Civil Americana, os políticos dos EUA passaram a criticar as gigantescas saias de crinolina. Contudo, o motivo das críticas não eram as mortes das mulheres, mas o fato de que essas saias eram imorais, já que permitiam que as roupas íntimas dessas mulheres fossem eventualmente vistas.
Com o passar dos anos, as saias deixaram de ser usadas, dando lugar as saias longas, sem a estrutura de gaiola.