Artes/cultura
13/04/2023 às 06:30•4 min de leitura
A liberdade para seguir qualquer religião desejada pode parecer ser algo comum na atualidade. Porém, em diversos países, algumas crenças ainda acabam sendo consideradas proibidas e até mesmo ilegais, passando por formas de perseguições não tão extremas como antigamente, mas que mesmo assim envolvem algum grau de violência ou burocracia.
Pensando nisso, separamos uma lista com seis movimentos religiosos vistos como proibidos em certas partes do mundo. Confiram abaixo:
Capa de um conto de 1883 sobre Obeah e Vudu. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Na Jamaica, essas religiões afro-caribenhas centradas na crença em espíritos e ancestrais são consideradas ilícitas, porém, apenas no papel. Tudo teria começado durante o período colonial e um por uma razão extremamente ridícula: suas práticas assustavam os brancos por serem uma forma de esperança para os escravos.
Inclusive, durante a Revolta de Tacky em 1760, qualquer um que fosse descoberto praticando os rituais de qualquer uma das duas recebia a pena de morte.
Em 1854, a Obeah passou oficialmente a ser ilegal no país, e embora o governo jamaicano tenha tentando mudar isso em 2019, o racismo colonial internalizado no país impediu que a população aceitasse essa decisão, considerando uma crença maligna, e obrigando esta lei puramente nominal a continuar em vigor.
Os cinco exercícios do Falun Gong. (Fonte: Wikipedia/Clear Wisdom/Reprodução)
Introduzido na China em 1992, o Falun Gong é um sistema de meditação e prática espiritual fundado por Li Hongzhi, que afirmou ter levado as crenças do Qigong a um novo nível. No final da década, esse movimento religioso já contava com mais de 70 milhões de seguidores, tornando-o a segunda maior fé no país após o budismo.
A religião passou a ser proibida pelo governo chinês em 1999, que a considerou uma ameaça à estabilidade social e política do país, pois seus princípios pacifistas que enfatizariam "as virtudes da verdade, benevolência e tolerância" iam contra as noções fortemente empregadas de materialismo e nacionalismo.
Sua ilegalidade tem sido alvo de diversas críticas internacionais pelos relatos de que muitos seguidores teriam sido presos, torturados e até mesmo mortos pelas autoridades, que obviamente negam essas acusações e dizem que a crença é basicamente uma "seita maligna".
No entanto, o Falun Gong ainda é praticado em todo o mundo por milhões de pessoas, muitas vezes em comunidades chinesas no exterior. Além disso, ele tem uma forte presença na mídia internacional e é frequentemente mencionado em relatórios de direitos humanos e liberdade religiosa.
Bandeira da Comunidade Ahmadi. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
A Comunidade Ahmadi, ou Ahmadiyya, é um movimento religioso islâmico fundado na Índia no final do século XIX, quando o país ainda estava sob ocupação britânica. De acordo com os muçulmanos ortodoxos, é uma religião herética por não crer que Maomé foi o último dos profetas, e sim Mirza Ghulam Ahmad (1835–1908), que teria afirmado que tanto a sociedade quanto a religião haviam se deteriorado e necessitavam passar por uma reforma.
Os ahmadis são um dos grupos mais perseguidos, sendo declarados pelo primeiro-ministro do Paquistão como não-muçulmanos e não tendo diretos básicos como votar e tirar um passaporte.
Vários praticantes já foram presos por blasfêmia não só no território paquistanês, mas também na Malásia, onde são vistos como apóstatas pelas autoridades. Na Argélia, eles sofrem diversos níveis de pressão, como a invasão e destruição de uma mesquita recém-construída e a prisão do líder religioso nacional em 2016.
Retrato de Bahá'u'lláh. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Esta religião monoteísta foi fundada no Irã durante o século XIX por Bahá'u'lláh. Seus seguidores acreditam em um Deus único e em profetas como Abraão, Moisés, Jesus e Maomé, bem como no próprio fundador como o mais recente mensageiro divino.
Os fiéis têm sido perseguidos em vários países ao longo dos anos, principalmente no território iraniano, no qual foram acusados de serem uma ameaça à segurança nacional, muitas vezes considerados apóstatas e traidores.
Por esses motivos, eles foram privados de muitos direitos civis, incluindo o direito à educação e certos empregos, como em cargos do governo, da lei, e na produção de alimentos por serem vistos como impuros.
Os bahá'ís também são vítimas de prisões ilegais, torturas e execuções, e no Irã, não podem nem mesmo receber o diyeh (traduzido literalmente para "dinheiro de sangue"), uma restituição monetária quando um parente é ferido ou assassinado.
No Egito, a situação também é grave, com os praticantes não tendo direito a contas bancárias e propriedades, e aqueles que são casados nesta fé não têm seus direitos conjugais básicos reconhecidos pelo Estado, impedindo até que peçam o divórcio ou recebam a herança do cônjuge.
(Fonte: Steelman/Wikipedia/Reprodução)
Com muitos praticantes no Brasil, as Testemunhas de Jeová são uma denominação cristã que se baseia nas crenças e ensinamentos da Bíblia, como a existência de um Deus único e Jesus Cristo como seu filho e salvador. Por considerarem sua divindade acima do estado, os fiéis já haviam sido banidos da Alemanha pelos nazistas.
Atualmente, países como a China, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Cingapura, Vietnã, Marrocos proibiram as atividades desses religiosos em seus territórios, considerando sua neutralidade política e recusa a realizar atos considerados importantes — como o serviço militar e transfusões de sangue — como uma ameaça à segurança nacional.
Na Rússia, a perseguição é notavelmente implacável, com a Suprema Corte categorizando em 2017 os fiéis como parte de uma "organização extremista", com as autoridades realizando quase 500 batidas em casas de Testemunhas de Jeová em 2019, nas quais confiscaram Bíblias, computadores, celulares e outros itens.
Lophophora williamsii, cacto conhecido popularmente como peiote. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
As religiões sacramentais psicodélicas são um conjunto de crenças que utilizam substâncias psicoativas, como o peiote, a ayahuasca e cogumelos alucinógenos, como sacramentos em seus rituais e cerimônias. Entre elas, se encontram nomes como o Santo Daime, a União do Vegetal e a Igreja Nativa Americana.
Elas são vistas como ilegais em muitos países, incluindo os Estados Unidos, nos quais o uso das substâncias envolvidas é proibido pela lei. No entanto, muitos praticantes argumentam que a utilização dos psicodélicos é essencial para a expressão de sua fé, e que tal proibição viola diretamente sua liberdade religiosa.
Pote de Ayahuasca. (Fonte: Terpsichore/Wikipedia/Reprodução)
Alguns desses movimentos conseguiram obter reconhecimento legal em certos países ou estados, como no caso da União do Vegetal no Brasil e da Igreja Nativa Americana nos Estados Unidos.
No entanto, eles ainda enfrentam resistência e preconceito por parte de alguns setores da sociedade e do governo, como, por exemplo, cidadãos com ascendência nativa americana que não tenham registros tribais não podem utilizar o peiote como um meio sacramental.
Porém, várias outras continuam proibidas em todo mundo devido ao combate às drogas, com tentativas de legalizar psicodélicos para fins religiosos sendo negadas, levando seguidores a se organizarem ilicitamente por temerem consequências da lei.