Ciência
13/04/2023 às 10:18•2 min de leitura
Um novo capítulo da Bíblia foi descoberto escondido em um manuscrito siríaco de 1.750 anos do Evangelho de Mateus. O medievalista Grigory Kessel, da Academia Austríaca de Ciências, chegou a este resultado usando fotografia ultravioleta na Biblioteca do Vaticano, como parte do Projeto Palimpsestos do Sinai, que visa recuperar textos apagados de obras que datam dos séculos IV a XII EC.
Os pergaminhos palimpsestos, nos quais escritas anteriores eram lavadas ou raspadas para reutilização, eram bastante comuns devido à escassez de materiais na época. Ao iluminá-los com fluorescência ou diferentes comprimentos de onda de luz, os pesquisadores decifraram 74 obras até agora, incluindo a mais recente identificação, que contém uma tradução um século mais velha que as antigas traduções gregas, como o Codex Sinaiticus.
(Fonte: Biblioteca Apostólica Vaticana/Reprodução)
Pergaminhos não eram um artigo amplamente disponibilizado na Idade Média, então, quando eram "apagados", o papel era frequentemente reutilizado. Este parece ser o caso do escriba da Palestina que apagou há cerca de 1.300 anos o novo texto descoberto.
Até recentemente, apenas dois manuscritos eram conhecidos por conter a tradução siríaca antiga dos evangelhos: um é mantido na Biblioteca Britânica em Londres e o outro no Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, o mais antigo mosteiro em operação contínua do mundo.
(Fonte: Biblioteca Britânica em Londres/Reprodução)
Este grande achado, escrito pela primeira vez no século III EC e copiada no século VI EC, oferece um pouco mais de detalhes do que a versão grega do capítulo 12 de Mateus.
Enquanto em grego é possível ler: "Naquela época, Jesus passou pelos campos de trigo no sábado; e seus discípulos ficaram com fome e começaram a colher as espigas e comer", a siríaca varia levemente, "começaram a colher as espigas, esfregá-las nas mãos e comê-las".
O documento já era conhecido por estudiosos desde 1953, mas foi redescoberto em 2010 e digitalizado em 2020. A identificação de Kessel está sendo chamada de "quarta testemunha textual" e foi possível graças ao seu profundo conhecimento de antigos textos no idioma, das características das tecnologias digitais modernas e de pesquisa.
De acordo com Claudia Rapp, diretora do Instituto de Pesquisa Medieval da Academia Austríaca de Ciências, "essa descoberta prova o quão produtiva e importante pode ser a interação entre tecnologias digitais modernas e pesquisa básica ao lidar com manuscritos medievais".