Relíquias sagradas: os restos mortais de santos acumulados pela Igreja

23/04/2023 às 02:002 min de leitura

A Igreja Católica guarda restos mortais de santos, as denominadas "relíquias sagradas", porque nunca enxergou um corpo morto como ele é, ainda mais se tratando de um santo. Essa prática de preservar ou consagrar restos mortais de santos e heróis, além de outros itens associados à sua vida ou morte, remonta à era pré-cristã na Europa.

Esses restos foram categorizados como "relíquias sagradas" e se tornaram uma parte essencial do ritual ecumênico cristão durante a Idade Média. As relíquias associadas a Jesus Cristo e a Virgem Maria se tornaram tão valorizadas que, no auge do período medieval, já existia um mercado clandestino para o comércio desses restos que foram roubados ou coletados de maneira ilegal.

Foi sob os auspícios de toda uma indústria que o turismo se desenvolveu a partir dos milhares de peregrinos que cruzavam distâncias para visitar os santuários contendo os santos venerados, para que pudessem se sentir minimamente próximos daquela energia que, segundo os cristãos, permanecia mesmo após a morte.

As "relíquias" da Igreja

(Fonte: Ancient Origins/Reprodução)(Fonte: Ancient Origins/Reprodução)

O mundo medieval cristão comercializou tudo o que pôde desses santos, de mortalhas, línguas e dedos até olhos e prepúcios. Esses itens não eram só exclusivos, forçando o turismo na região e arrebanhando, consequentemente, mais fiéis, mas também eram vendidos, negociados, comprados, roubados ou anunciados.

Nada disso parecia impróprio no auge do século VIII. Hoje é considerado um crime que civis possuam esses itens, mas a Igreja os mantém como uma tradição sagrada. Na Catedral de São Pedro Apóstolo, no Kansas (EUA), existe um relicário com centenas de pedaços de santos em recipientes em conserva atrás do altar-mor.

(Fonte: Catholic Herald/Reprodução)(Fonte: Catholic Herald/Reprodução)

Os vasos chegaram depois que o bispo Donelly, fundador da arquidiocese da região, escreveu à Roma pedindo algumas relíquias para enriquecer o novo "chão de Deus", e o Vaticano assim o fez. Tudo o que foi entregue à arquidiocese acompanha um certificado de autenticidade escrito em latim, como partes do cadáver do Papa Pio V, falecido em 1572.

Muito embora não dê para saber quantas igrejas, capelas, paróquias ou arquidioceses pelo mundo contenham essas relíquias, é certo que muitas delas tenham pelo menos alguma. 

Acredita-se que a prática tenha começado com o Segundo Concílio de Niceia, em 787, quando foi decidido que, por uma questão de continuidade e respeito com a memória dos antepassados cristãos, cada igreja deveria ter uma instalação de relíquias.

Sob o controle do Vaticano

(Fonte: Chicago Catholic/Reprodução)(Fonte: Chicago Catholic/Reprodução)

O Vaticano nunca declarou oficialmente uma relíquia como genuína, apesar de seus certificados de autenticidade que, facilmente, podem ser apenas uma maneira de evitar que o mercado ilegal da Idade Média se repita.

Ainda que essa prática seja meio controversa, a ideia da Igreja em reconhecer o significado dessas relíquias como lembranças é considerada válida, afinal, também instrui as pessoas a valorizarem itens que não são religiosos.

(Fonte: CDN/Reprodução)(Fonte: CDN/Reprodução)

Atualmente, a importância de uma relíquia para o Vaticano está classificada em primeira classe, em que são categorizados os pedaços de santos, como cabelos e olhos; segunda classe, onde estão os itens pessoais, como roupas e livros; e terceira classe, objetos que já entraram em contato com as coisas da primeira e da segunda classe ou com seus donos, como um grampo de cabelo.

É por essa gama variada que o Vaticano sustenta um depósito imenso para guardar suas relíquias sagradas enquanto esperam para serem distribuídas às igrejas ao redor do mundo.

Dada essa amplitude, talvez o Vaticano realmente tenha um depósito gigante de relíquias guardadas esperando para serem distribuídas às igrejas. Muito embora a compra e venda dessas relíquias seja considerada ilegal, os católicos podem resgatar uma se ela aparecer em vendas de garagem ou pela internet.

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