Ciência
17/05/2023 às 06:30•3 min de leitura
A história de Anne Frank, uma menina que foi vítima do Holocausto nazista, ficou mundialmente famosa por conta de seu diário, no qual documentou como era a sua vida e de sua família durante os dois anos em que eles viveram escondidos em cômodos ocultos dentro de uma empresa, no período da ocupação alemã nos Países Baixos, ao longo da Segunda Guerra Mundial. Encontrado após a sua morte, o documento deu origem ao livro Diário de Anne Frank, publicado pela primeira vez em 1947.
O livro foi lido foi milhares de pessoas que se comoveram com o relato tocante de Anne e que expôs os horrores instalados pelo nazismo entre as famílias judias. A repercussão foi tanta que muita gente se interessou em saber como teria sido a vida de Anne Frank antes de ela se tornar reclusa.
Uma obra chamada My Friend Anne Frank lança luz sobre esta questão. A autora é Hannah Pick-Goslar, que foi a melhor amiga de Hannah durante a infância. O livro será lançado agora em junho.
(Fonte: Smithsonian Mag)
Anne e Hannah se conheceram ainda crianças, em uma loja de bairro. A família Frank — composta por Otto, o pai, Edith, a mãe, e as filhas Margot e Anne — havia fugido da Alemanha para a Holanda. Lá, eles passaram a conviver com outras famílias judias refugiadas, incluindo os Goslar.
As duas meninas frequentaram a escola juntas. Em um trecho relatado no livro, que se passa em 1934, as crianças estão convivendo no ambiente escolar. Hannah conta que foi levada a acreditar que a família Frank havia deixado o seu país abruptamente — quando, na verdade, eles ainda estavam em Amsterdam, mas escondidos.
Hannah Pick-Goslar (que tinha o apelido Hanneli) e Anne Frank se encontravam pela última vez em 1945, em lados opostos de uma cerca em um campo de concentração de Bergen-Belsen, ao norte da Alemanha. Anne morreria pouco depois. Já Hannah sobreviveu, se mudou para Israel, virou enfermeira, casou-se e teve três filhos. Ela faleceu em 2022, quando tinha 93 anos.
(Fonte: DW)
Na obra, Hannah lembra pequenos detalhes dessa convivência. Ela conta quando, no primeiro dia de aula, avistou uma garota de cabelo muito escuro que ela reconheceu ser a mesma que havia visto no mercado do seu bairro. As duas se abraçaram e criaram uma conexão muito profunda — fortalecida pelo fato de que ambas não falavam holandês.
Anne é descrita por Hannah como uma mocinha de personalidade forte. "Anne tinha pele morena pálida e era mais ou menos uma cabeça mais baixa do que eu — uma menininha, quase frágil, com olhos escuros grandes e brilhantes que pareciam rir quando ela o fazia. Mas sua pequenez desmentia sua grande personalidade. Ela era excelente em iniciar ideias para jogos, liderando outras crianças. Ela tinha confiança suficiente para perguntar qualquer coisa a um adulto, o que parecia fazer constantemente. Fiquei maravilhada com a forma como ela surgiu com tantas perguntas", escreve.
Ao descobrir que, além de colegas, eram vizinhas, Anne e Hannah ficaram ainda mais felizes. Elas passaram então a frequentar a casa uma da outra e a ir juntas para a escola todos os dias. Nesta convivência, ambas aprendiam as primeiras palavras em holandês e compartilhavam algumas lembranças sobre o passado na Alemanha.
Com o passar do tempo, elas começaram a ver coisas estranhas pela cidade, como uma placa na frente de uma piscina pública do bairro que dizia “Juden Zutritt Verboten” — ou seja, que os judeus não eram permitidos ali. Um mês depois, os nazistas impuseram as Leis de Nuremberg, retirando a cidadania judaica em nome da preservação da chamada “pureza do sangue alemão”. Os judeus haviam se tornado apátridas, e poderiam ser oficialmente discriminados.
A família Frank se exilaria num esconderijo em julho de 1942. Em um dos momentos marcantes do livro, Hannah lembra do último aniversário de Anne que passou ao lado da amiga. A menina celebrava seus 13 anos, e sumiria com a família pouco depois. "Anne era uma daquelas pessoas que realmente amava seu aniversário; ela contaria a qualquer um que quisesse ouvir quando isso acontecesse", lembra Hannah.
Hannah conta que descobriu que a família da amiga não estava mais lá quando bateu em sua porta para pegar uma balança. Um vizinho informou que os Frank haviam se mudado para a Suíça. Na verdade, eles passaram dois anos em um sótão, onde recebiam ajuda com mantimentos doados por amigos.
No dia 4 de agosto de 1944, após uma denúncia anônima feita por um holandês, a Gestapo (Polícia Secreta do Estado Alemão), descobriu o esconderijo e prendeu seus moradores. O único que sobreviveu aos campos de concentração foi o pai, Otto, que mais tarde publicaria o diário da filha.