A incrível história dos pilotos que inspiraram 'O Pequeno Príncipe'

19/07/2023 às 09:003 min de leitura

Antoine de Saint-Exupéry entrou para a história como o escritor de um dos livros mais famosos de todos os tempos, O Pequeno Príncipe. Mas o que nem todo mundo lembra é de onde ele tirou a inspiração para a sua obra. Saint-Exupéry era apaixonado por voar e fazia rallies aéreos, com percursos que de longas distâncias e duração de muitas horas.

Foi num desses rallies que o avião de Saint-Exupéry teve uma pane em 1935 e ele teve fazer uma aterrissagem de emergência no deserto do Saara. Lá, ele e seu amigo André Prévet passaram alguns dias angustiantes antes de serem resgatados.

Mas eles não foram os únicos aventureiros a entrar neste tipo de jornada. Outros pilotos faziam os mesmos trajetos e disputavam o rally Toulouse-Tarfaya, que se repete anualmente até hoje. Já outros trabalhavam num serviço postal aéreo pioneiro, a Aéropostale.

Os pioneiros da Aéropostale

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Tarfaya já foi uma parada crucial no primeiro serviço de correio aéreo intercontinental, Lignes Latécoère (que mais tarde alterou o nome para Aéropostale). A Aéropostale tinha sede na capital da aviação da França, Toulouse, e era operada por uma rede de pilotos corajosos que voavam em aviões biplanos pela costa da África Ocidental. Antoine de Saint-Exupéry por um tempo administrou o aeródromo de Tarfaya, e foi lá que começou a escrever seus romances.

Em 1983, um jornalista chamado André Sabas organizou pela primeira vez um rally aéreo para homenagear esta história, reorganizando a rota da Aéropostale, indo de Toulose até Saint Louis, no Senegal, passando pela Espanha, Europa e Mauritânia.

Um dos participantes originais foi o médico Jean-Jacques Galy, que cresceu ouvindo histórias sobre a Aéropostale. Ele participou novamente em 1984, e começou a organizar o rally em 1991. Em 2010, tornou-se o diretor geral desta expedição.

Para o médico e aviador, os pilotos originais são seus heróis. “É importante ter uma missão na vida. Eles tinham isso. Ao ponto, eles arriscaram suas vidas. Fizeram isso porque tinham 25 anos, não temiam nada. Se uma pessoa se saiu bem, a outra queria fazer melhor", afirma Gally.

O fundador da Aéropostale

(Fonte: Wikipedia)(Fonte: Wikipedia)

Entre as pessoas que Gally admira, está o fundador da Aéropostale. Pierre Georges Latécoère foi um fabricante de aeronaves da Primeira Guerra Mundial. Com o fim da guerra, ele teve a ideia de transportar correspondências pela África Ocidental, atravessando o Atlântico até a América do Sul.

Depois de um ano de testes, Latécoère conseguiu inaugurar a linha Toulouse-Rabat, com subvenção do governo de Marrocos. Em 1925, o correio aéreo já circulava diariamente de Toulouse para o Senegal e chegava por fim no Brasil.

“Em 1920, enviar uma carta da França para o Chile demorava dois meses e meio. Depois da Aéropostale, a carta viajava em uma semana. Foi o primeiro passo da aceleração das comunicações”, diz Sadat Shaibata Mrabih Rabou, diretor do museu Aéropostale de Tarfaya. 

Ainda assim, toda essa operação arriscada custou vidas: cerca de 120 pilotos morreram, por falhas técnicas nos aviões ou problemas relativos ao mau tempo. Alguns foram sequestrados durante os voos. Em 1928, dois pilotos da Aéropostale passaram 117 presos no sul de Tarfaya, e Saint-Exupéry teve que negociar seu resgate com os mouros.

Mas o fator mais perigoso era o próprio cronograma da Aéropostale. Como as entregas tinham que ocorrer diariamente, os pilotos voavam em todas as condições, por piores que fossem.

O rally atualmente

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Já os rallies atuais, obviamente, não correm esses riscos. Há um forte uso da tecnologia para controlar as máquinas e monitorar a previsão do tempo. Os participantes devem ter mais de 250 horas de voo para se candidatarem ao trajeto. O que não significa, claro, que não haja riscos em voar em aviões biplanos.

Os participantes do rally Toulouse-Tarfaya seguem os preceitos usados por Saint-Exupéry. Entre eles, está as trocas entre as culturas, de acordo com os locais que os pilotos visitam. "O Pequeno Príncipe é um ícone, um embaixador da paz. É importante compartilhar essa memória com o povo de Tarfaya. Eles sabem que essa é a história deles também", fala Olivier d'Agay, sobrinho-neto de Saint-Exupéry, que trabalha até hoje em Tarfaya.

Sadat Shaibata Mrabih Rabou, que cresceu em Tarfaya, lembra que as crianças locais sempre corriam para receber os aviões que pousavam. A chegada dos pilotos durante o rally servia como uma troca de conhecimento e mesmo a inserção de recursos financeiros nas cidades que estavam na rota da Aéropostale. E assim, ao manter essa história viva, todos os participantes acreditam estarem colaborando para difundir a ideia de paz e tolerância trazida na famosa obra de Saint-Exupéry.

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