Estilo de vida
18/08/2023 às 04:00•3 min de leitura
O que a família real britânica, o povo inuíte canadense e o papa têm em comum? Eles são os maiores proprietários de terras do mundo. E isso é bizarro de imaginar, considerando que 71% da superfície da Terra é coberta por água, sobrando apenas cerca de 57 milhões de quilômetros quadrados de terra no planeta, o equivalente a 36 bilhões de acres.
Boa parte dessa terra é considerada inabitável por ser montanhosa ou desértica, deixando cerca de 15 bilhões de acres de terra habitável no planeta. Considerando que existem 7,8 bilhões de habitantes, há pouco menos de 2 acres para cada pessoa, sem contar os muitos serviços e mercadorias públicas, como estradas e parques, que já consomem grande parte desse território.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
A família real britânica atualmente possui em terras 1/6 da superfície do planeta, isso inclui locais em Londres, na Grã-Bretanha rural e mais de 90% das terras do Canadá. Ou seja, estamos falando de mais de 6 milhões de acres de terra em todo o mundo. Tudo isso está sob a governança do The Crown Estate, uma corporação estatutária que administra o patrimônio composto por terras e propriedades pertencentes ao monarca britânico, no caso o rei Charles III, como uma corporação única, tornando-se o patrimônio público do soberano.
Segundo a própria empresa, todo esse império não se trata de propriedade privada do monarca reinante nem do governo, portanto, não pode ser vendida por ele, tampouco as receitas o pertencem. O The Crown Estate é registrada como uma corporação única e administrada por uma organização independente com a qual a família real não está envolvida.
É preciso também ressaltar a distinção entre a riqueza das propriedades da corporação e a pessoal da família real. No caso, ela é proprietária de um patrimônio avaliado em mais de 365 milhões de euros. Desse total, 100 milhões de libras representam a coleção de selos pessoais da família da rainha, conhecida como Royal Philatelic Collection.
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Apesar da corporação dizer que a família real não lucra em nada com os milhões em aluguéis de seus inquilinos, 25% dos lucros são devolvidos à coroa britânica como parte do Sovereign Grant, usado para financiar anualmente a própria família real. Ou seja, no final das contas, a própria fortuna pessoal da monarquia britânica está associada ao desempenho do The Crown Estate.
Professora na Universidade de Lancaster e escritora, Laura Clancy diz que o The Crown Estate "reproduz seu poder", e argumenta que a família real escapa do escrutínio apropriado do governo por sua riqueza herdada em um momento de crescente desigualdade global, sobretudo na área de propriedades.
Clancy também discorda que há uma distinção entre a riqueza pessoal da realeza britânica e a da corporação, visto que grande parte dos direitos de propriedade originais da monarquia que hoje são controlados pela empresa remontam a períodos de conquista e colonialismo.
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Entre igrejas, escolas, florestas, terras agrícolas e fazendas, a Igreja Católica reúne mais de 177 milhões de acres por todo o mundo. Isso é maior do que o Texas e duas vezes o tamanho da Alemanha. Em 2016, Molly Burhans fundou a GoodLands, uma organização sem fins lucrativos com a ambição de criar um plano ecológico de uso da terra para a Igreja Católica.
Isso porque ela descobriu que a Igreja carecia de um inventário abrangente de seu patrimônio de terras, o que não acontecia desde o Sacro Império Romano-Germânico. Após obter permissão do Vaticano, Burhans passou por um longo processo de trazer a Igreja para o século XXI, mapeando toda sua fortuna e propriedades, formando um banco de dados que fornece um panorama atualizado de tudo.
Em 2021, o escritório central da Igreja Católica revelou que o Vaticano possui mais de 5 mil propriedades de igrejas e investimentos em todo o mundo, sendo que 4 mil delas estão na Itália, e a maioria é usada por grupos afiliados à Igreja ou alugada a preços reduzidos em vez de preços de mercado, conforme um relatório da Administração do Patrimônio da Santa Sé (APSA).
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O povo inuíte de Nunavut, no Canadá, tem cerca de 87 milhões de acres em sua posse, o que equivale a quase o tamanho da Alemanha, concedida legalmente pelo governo canadense como parte do Acordo de Reivindicações de Terras de Nunavut de 1993.
O território foi e ainda é o maior assentamento de reivindicações de terras da história do Canadá, muito embora esteja bem longe de superar a quantidade de terras detidas coletivamente pelo povo inuíte. A região foi oficialmente separada dos Territórios do Noroeste em 1999, tornando-se também a mais nova subdivisão de alto nível do Canadá.