Artes/cultura
03/09/2023 às 05:00•2 min de leitura
Escrito em 1897, o romance gótico Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker, foi inspirado em alguns episódios que realmente aconteceram. E um deles foi o naufrágio do navio Dmitry, ocorrido em Whitby, Yorkshire, na Inglaterra, no ano de 1885. A história real acabou inspirando Stoker a criar um dos capítulos de seu famoso livro.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1890, o romancista irlandês Bram Stoker passou um mês de férias na cidade litorânea de Whitby, localizada no nordeste da Inglaterra. Ele se encantou com o ambiente repleto de grandes mansões e hotéis que adornavam a região. Havia também um cemitério da igreja, que o inspirou diretamente para a criação de Drácula.
Ele também se interessou pelos navios que desembocavam no porto local. Ao visitar o Museu Whitby, para pesquisar sobre essas embarcações, ele teria encontrado um livro escrito por William Wilkinson, e cujo nome era An account of the principalities of Wallachia and Moldavia. Nesta obra, Bram Stoker teria tido contato pela primeira vez com a palavra "drácula", que na língua valáquia (que vinha de uma província da Romênia) significa "diabo".
Em seguida, Stoker percorreu a costa e começou a investigar sobre o naufrágio do navio cargueiro Dmitry, que havia ocorrido cinco anos antes. A embarcação saiu de Narva, na Rússia, e desembarcou em Whitby por conta de uma grande tempestade. Outro navio, chamado Mary and Agnes, teria encalhado no mar, e um bote-salva vidas foi enviado para resgatar a tripulação.
Os tripulantes do Mary and Agnes conseguiram descer, mas os que estavam no Dmitry ficaram presos, porque o mar seguia batendo violentamente contra o navio. Em certo momento, a embarcação começou a se partir. Não se sabe exatamente como isso aconteceu, mas sete tripulantes conseguiram ser trazidos à costa.
Bram Stoker transformou os fatos e colocou-os no seu famoso livro. Dmitry virou Demeter, e Narva virou Varna. Ele contou então na sua obra que o navio carregava várias caixas de madeira cheias de mofo.
A partir de suas conversas com pescadores de Whitby, Stoker descobriu que várias mortes ocorreram nessa costa. Ele anotou cerca de 90 nomes escritos em lápides de Whitby para usar na sua história, incluindo o sobrenome "Swales". Ele aparece em certo trecho de Drácula, em que se lê que, logo após do desembarque de Demeter, "o senhor Swales foi encontrado morto, com o pescoço quebrado".
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em seu romance, Bram Stoker escreveu que o próprio Drácula teria se tornado um cachorro para desembarcar do Demeter até a terra seca. Contudo, não se sabe de nenhum cachorro que tenha estado no Dmitry, o que poderia ser então uma homenagem a outro naufrágio, do Greyhound, ocorrido em 1770, em que um cão teria pulado da embarcação.
Contudo, no romance Drácula, algo parecido acontece quando a Demeter chega à costa: "no exato instante em que a costa foi tocada, um imenso cão saltou para o convés vindo de baixo, como se tivesse sido atingido pela concussão e, correndo para a frente, saltou da proa na areia", escreve Stoker.
Na história, portanto, o cachorro era Drácula disfarçado, e foi responsável por causar um grande derramamento de sangue e várias mortes no navio. Este cão se assemelhava ao Barghest, um monstruoso cão sobrenatural com enormes dentes e garras, que foi imaginado na cultura do norte da Inglaterra, especialmente em Yorskhire.
Na mitologia, o Barghest é um ser que prenuncia a existência de dor, desastre e até a morte para aqueles que o viram. Isso inclusive é relatado em Drácula por Mina Murray, a protagonista da obra. E foi assim que um naufrágio real foi parar dentro de um dos romances de terror mais famosos de todos os tempos.