Artes/cultura
09/09/2023 às 03:00•2 min de leitura
Embora o incesto continue sendo nos dias de hoje um tema controverso e rejeitado na maioria das culturas, a prática de casamentos consanguíneos entre irmãos ou pais e filhos era uma prática comum na realeza egípcia. O faraó Tutancâmon, por exemplo, era filho de dois irmãos, sendo que o seu pai, Aquenáton (também conhecido como Amenófis IV), procriava com as próprias filhas.
Embora essa prática se restringisse tradicionalmente à realeza, cujos membros eram considerados representantes dos deuses na Terra, ela se estendeu à população egípcia em geral durante o período em que os romanos controlavam o país, entre 30 a.C. a 395 d.C.
Os faraós do Egito tinham na maioria das vezes várias esposas e concubinas e geravam filhos com suas filhas e irmãs. Em um artigo científico publicado na revista JAMA em 2010, uma esquipe de pesquisadores lideradas pelo ex-ministro egípcio de antiguidades, Zahi Hawass, concluiu que a endogamia foi responsável pelos inúmeros problemas médicos de Tutancâmon, falecido prematuramente aos 19 anos.
(Fonte: GettyImages)
A prática do incesto no Egito antigo é muitas vezes atribuída à tentativa de reproduzir a mitológica relação entre o deus dos mortos, Osíris, e sua irmã Ísis, que era a deusa da fertilidade e da maternidade.
Para perpetuar suas imagens de deuses na Terra, "a realeza se envolveu em casamentos entre parentes próximos", afirma Leire Olabarria, professor de egiptologia na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, ao Live Science.
Os sucessivos cruzamentos genéticos entre pessoas com DNAs similares contribuiu para uma grande incidência de patologias, principalmente aquelas presentes nos genes recessivos, aqueles que precisam estar presentes nos cromossomos de ambos os pais para que a doença se manifeste nos filhos.
(Fonte: 20th Century Fox)
Apesar de a manutenção da “pureza” do sangue ser uma das hipóteses mais comuns para explicar a ocorrência de incestos na cultura egípcia, o aumento de casamentos entre irmãos durante o domínio romano continua sendo uma questão polêmica. Uma curiosa prática, a de adoção de genros, foi levantada no livro A família no Egito Romano: uma abordagem comparativa à solidariedade e conflito intergeracional, de Sabine Huebner.
De acordo com a autora, que é professora de civilizações antigas na Universidade de Basileia, na Suíça, pais sem filhos adotavam seu futuro genro, pois isso significa que o marido se mudaria para a casa deles, em vez de a filha partir. Esse arranjo visava garantir a estabilidade financeira dos pais da noiva, à medida que envelhecessem.
Mas muitos estudiosos rejeitam essa tese. Segundo Olabarria, os próprios pais encorajavam os casamentos entre irmãos, durante o Egito romano, para assegurar que a propriedade e a riqueza não fossem divididas após suas mortes.