Ciência
20/01/2024 às 13:00•3 min de leitura
Talvez poucos nomes históricos juntem tanta polêmica quanto o de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Lenin. Cem anos depois de sua morte, o líder continua como um personagem complexo que reúne muitas opiniões sobre o seu legado.
O revolucionário russo atuou como político, intelectual e estrategista – mas se destacou, sobretudo, por ter sido o chefe de governo da Rússia Soviética de 1917 a 1924 e da União Soviética de 1922 até sua morte.
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Nascido em uma família simples, formada por servos, Lenin veio ao mundo em 10 de abril de 1870, em Simbirsk. Recebeu logo o apelido de Volodya, que é um diminutivo de Vladimir. Ele era um dos 11 filhos de Ilya Nikolayevich Ulianov e Maria Alexandrovna Blank.
Seus pais se consideravam monarquistas e eram contra os políticos radicais. Há registros históricos de que o pequeno Vladimir demonstrava uma personalidade competitiva e era, às vezes malcriado, mas se destacava nos estudos.
A vida de Lenin foi marcada pela morte de seu pai, em 1886, quando ele tinha então 16 anos, e de seu irmão Aleksandr. Ele havia organizado protestos contra o governo, uniu-se a uma célula que planejava executar o imperador e acabou sendo condenado ao enforcamento.
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Estes dois fatos se tornariam traumas que trariam influência nos rumos tomados em seu futuro. Mas, além disso, impulsionariam toda a família para um maior envolvimento em questões políticas. Isso porque os Ulyanov acabaram, na sequência desses acontecimentos, isolados da vida burguesa, o que fez com que desenvolvessem uma raiva direcionada aos nobres e liberais.
Vladimir foi expulso da Universidade de Kazan, onde estudava Direito. Precisou estudar por conta própria e só obteve um diploma depois que sua mãe conseguiu que ele prestasse uma prova de Direito em São Petersburgo.
Desde muito cedo, Lenin foi influenciado pela leitura da obra de Karl Marx. Ao longo de sua vida intelectual, ele associou os princípios do marxismo com sua teoria de organização política, imaginando a formação de um grupo de elite formado por uma "vanguarda do proletariado", que seria responsável por conduzir as massas à libertação do regime czarista.
Em 1897, foi preso e condenado, sem julgamento, a um exílio na Sibéria, onde cumpriu sua pena. Durante todo o tempo, ele estudava e produzia uma de suas obras mais importantes, chamada O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, na qual apresenta uma análise das relações de produção e o crescimento da divisão entre classes em seu país.
Lenin foi libertado no começo de 1900 e, após um período na Rússia, deixou o país ainda no mesmo ano para viver em países da Europa Ocidental, principalmente na Suíça, onde teve contato com outros marxistas.
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Entre 1904 e 1905, a Guerra Russo-Japonesa fez com que a Rússia entrasse em uma crise econômica gigantesca, o que levou a uma mobilização dos trabalhadores pobres. Eles então estabeleceram uma greve geral e organizaram uma marcha em direção ao palácio onde morava o Czar Nicolau II.
Ao chegarem lá, os soldados abriram fogo contra a população, causando um massacre no qual pelo menos 200 pessoas morreram. O evento ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e ajudou a espalhar o ímpeto por mudanças. Lenin, embora não tenha participado diretamente do acontecimento, estimulou os trabalhadores a se armarem e se rebelarem.
Lenin começou, então, a tomar a dianteira na liderança do crescente movimento revolucionário. Com a Primeira Guerra Mundial, a partir de 1914, a Rússia passou a se afundar em uma crise ainda mais grave, o que estimulou ainda mais o levante dos trabalhadores.
Em 23 de fevereiro de 1916, milhares de pessoas se reuniram nas ruas de Petrogrado, atual São Petersburgo, levando à eclosão do movimento que culminaria na derrubada do czarismo. Por fim, o czar Nicolau II abdicou do trono e um novo governo começou a ser organizado. Nesse momento, Lenin viu condições para o seu retorno à Rússia e defendeu que os sovietes (conselhos políticos formados pelas classes mais populares) deveriam canalizar a mobilização dos trabalhadores.
Assim, ele começou a estimular que as classes proletárias se revoltassem contra o governo provisório e a criticar quem defendia uma união entre bolcheviques e mencheviques, as duas vertentes políticas que disputavam o poder após a queda do czar. Sua meta era a instalação de um governo revolucionário exercido pelos trabalhadores, a partir da expressão “todo poder aos sovietes”.
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Nesse contexto, Lenin articulou um apoio das massas às suas ideias, unindo os trabalhadores urbanos e rurais. Em 24 de outubro de 2017, os bolcheviques conseguem tomar o poder em locais estratégicos de Petrogrado, dando espaço à chamada Revolução de Outubro.
Com a ascensão dos bolcheviques, Lenin vira líder da Rússia e estabelece várias mudanças. Dentre elas, está a tomada das terras e propriedades da aristocracia e da Igreja Ortodoxa, e a concessão do poder aos camponeses para a realização da reforma agrária.
O regime estabelecido pelo líder é, até hoje, visto sob extrema controvérsia. Há os que defendam que ele decretou medidas que combatiam a desigualdade social, como a reforma agrária, além de realizar ações de combate ao analfabetismo. Por outro lado, há os que o definam como um autoritário que massacrou todas as forças contrárias às suas ideias.
Nos últimos anos em que esteve no governo, Lenin enfrentou uma insurgência contrarrevolucionária formada a partir de 1918, o que levou à Guerra Civil Russa. Neste período, o governo implementou medidas que permitiam o confisco de grãos de camponeses contrários ao regime.
O poder de Lenin passou a se deteriorar a partir de 1922, por conta, sobretudo, dos problemas de saúde que o acometeram. Ele sofreu derrames cerebrais e ficou muito fragilizado, dando margem para que houvesse disputas pelo poder. Quem acabou sucedendo o líder soviético foi Josef Stalin.
Em 21 de janeiro de 1924, sua morte foi anunciada. Por conta disso, a cidade de Petrogrado foi renomeada como Leningrado e Lenin entrou para a história como um dos grandes símbolos do socialismo.