Acidente nuclear de Tokaimura: o erro humano que causou uma crise nuclear

15/10/2024 às 04:002 min de leituraAtualizado em 15/10/2024 às 04:00

Em 30 de setembro de 1999, o mundo presenciou um dos mais graves acidentes nucleares, ocorrido em Tokaimura, no Japão. O desastre expôs falhas críticas nos procedimentos de segurança de uma usina de processamento de combustível nuclear, resultando na morte de trabalhadores e na exposição de centenas de pessoas à radiação.

O que causou o acidente

Hisashi Ouchi. (Fonte: Nuclear Energy/Reprodução)
Hisashi Ouchi. (Fonte: Nuclear Energy/Reprodução)

O acidente foi uma combinação fatal de erro humano e quebra de protocolos de segurança. Três trabalhadores — Hisashi Ouchi, Masato Shinohara e Yutaka Yokokawa — estavam manipulando combustível de urânio em uma instalação da JCO quando, pressionados por prazos apertados, decidiram ignorar etapas fundamentais de segurança.

Em vez de seguir o procedimento padrão, eles misturaram urânio enriquecido de forma inadequada, usando baldes de aço inoxidável e transferindo o material diretamente para um tanque de precipitação, sem o controle necessário.

O urânio que estavam processando tinha um nível de enriquecimento de 18,8%, muito acima do que estavam acostumados a lidar, aumentando significativamente o risco de uma criticidade — o ponto em que a reação nuclear se torna autossustentável.

Às 10h35 daquela manhã, uma reação foi desencadeada, com um clarão azul que sinalizava a liberação de radiação. Ouchi, Shinohara e Yokokawa foram expostos a doses massivas e perigosas de radiação naquele instante. A reação nuclear descontrolada durou 20 horas!

Consequências e impactos humanos

A radiação afetou gravemente os trabalhadores e expôs centenas de pessoas a níveis perigosos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
A radiação afetou gravemente os trabalhadores e expôs centenas de pessoas a níveis perigosos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

As consequências para os trabalhadores foram devastadoras. Hisashi Ouchi, que estava mais próximo do tanque, foi o mais afetado, recebendo uma dose de radiação estimada em 17 sieverts — muito além do que o corpo humano pode suportar.

Ele rapidamente começou a apresentar os sintomas da exposição, como náuseas e desmaios. Shinohara e Yokokawa também foram gravemente afetados, com doses de 10 e 3 sieverts, respectivamente.

Ouchi foi levado ao hospital, onde passou por um sofrimento intenso por 83 dias, enquanto seu corpo era destruído pela radiação. Apesar de diversos tratamentos, incluindo transplantes de células-tronco e inúmeras transfusões de sangue, ele faleceu em dezembro de 1999.

Shinohara lutou até abril de 2000, mas também não resistiu, morrendo devido à falência múltipla de órgãos. Yokokawa sobreviveu, mas enfrentou meses de internação e, mais tarde, foi acusado de negligência por seu papel no acidente.

Além dos trabalhadores diretamente atingidos, mais de 10 mil residentes da área ao redor da usina foram examinados para verificar a contaminação por radiação, e centenas foram expostos a doses perigosas.

Embora frequentemente ofuscado pelo desastre de Fukushima de 2011, o acidente de Tokaimura é um lembrete poderoso da importância de normas de segurança rigorosas em instalações nucleares.

Ele ilustra de forma trágica o impacto devastador que a falta de precauções e o descuido com protocolos podem causar, resultando em perdas humanas irreparáveis e graves consequências para a comunidade.

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