Artes/cultura
17/08/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 17/08/2024 às 14:00
Após mais de um século de mistério, o corpo de um soldado desaparecido durante a Primeira Guerra Mundial foi finalmente identificado. O soldado Charles McAllister, um nativo de Seattle que lutou na ofensiva de Aisne-Marne, em julho de 1918, será sepultado com todas as honras militares em sua cidade natal, no próximo dia 21 de agosto.
A identificação dos restos mortais de McAllister foi um longo e complexo processo que envolveu registros históricos, análise forense e testes de DNA, encerrando um capítulo doloroso para sua família e para aqueles que lutaram para desvendar sua identidade.
A história da identificação de McAllister começa em 2002, quando arqueólogos franceses descobriram os restos mortais de dois soldados perto da vila de Ploisy, na França, um local de intensos combates durante a Primeira Guerra Mundial. Um dos soldados foi identificado como Francis Lupo, graças a uma carteira com seu nome gravado, mas o outro permaneceu um enigma por quase duas décadas.
Foi somente em 2019 que Jay Silverstein, um antropólogo forense aposentado que trabalhou na Defense POW/MIA Accounting Agency (DPAA) — uma agência americana que procura desaparecidos em conflitos —, decidiu reabrir o caso por conta própria, determinado a dar um desfecho à história do soldado desconhecido.
A tarefa de identificar McAllister foi árdua. Os poucos indícios disponíveis incluíam dois botões de uniforme com inscrições enigmáticas e uma medalha de campanha que indicava sua participação na guarda nacional do estado de Washington.
Silverstein começou a restringir as possibilidades, cruzando informações sobre regimentos que estiveram na área onde os restos mortais foram encontrados e correlacionando esses dados com registros históricos. A busca culminou em uma lista de possíveis soldados desaparecidos que poderiam ser o soldado desconhecido.
Mesmo com a apurada pesquisa histórica, foi a análise detalhada dos registros dentários que se mostrou crucial. McAllister tinha extrações dentárias incomuns que coincidiam perfeitamente com o esqueleto encontrado. Além disso, sua altura e constituição física também se alinhavam com as características do corpo encontrado.
Ainda assim, as evidências precisavam ser confirmadas com testes de DNA. Silverstein conseguiu localizar descendentes de McAllister, que forneceram amostras de DNA mitocondrial e nuclear, confirmando a identidade do soldado.
Apesar da precisão científica, o processo de identificação foi lento e frustrante devido à burocracia e limitações legais da DPAA. Silverstein, convicto de que havia dados suficientes para identificar McAllister, criticou a demora e defendeu que a agência deveria ter feito mais para honrar o sacrifício do soldado.
A persistência de Silverstein e a colaboração da sobrinha-neta de McAllister, Beverly Dillon, foram essenciais para resolver o caso. Dillon, que guarda com carinho a memória do tio-avô, compartilhou com Silverstein uma carta onde McAllister expressava seu desejo de servir ao país e sua esperança de voltar para casa.
Agora, após mais de um século, McAllister será finalmente sepultado com dignidade em Seattle. O público foi convidado a participar do funeral e a prestar seus respeitos ao soldado que, após tantos anos, poderá finalmente descansar em paz.