Estilo de vida
16/11/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 16/11/2024 às 21:00
Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, trabalhadores em um campo da península de Jutlândia, na Dinamarca, fizeram uma descoberta sinistra: ossos humanos. Batizada como Alken Enge, essa área, guardava restos mortais que, embora macabros, não eram recentes — pertenciam a pessoas que viveram há milhares de anos. 12 anos depois, mais trabalhadores encontraram dezenas de crânios na mesma região, o que motivou escavações arqueológicas para desvendar o mistério do lago que, aparentemente, era o túmulo de um exército esquecido.
Conforme as escavações avançavam, a equipe percebeu que toda a área estava repleta de ossos humanos, todos da Idade do Ferro. Há cerca de 2.000 anos, Alken Enge era um lago, e os esqueletos ali descobertos não haviam morrido afogados. Seus corpos carregavam marcas de violência brutal: cortes de armas afiadas, ferimentos de lanças e flechas e crânios esmagados por machados. Os arqueólogos concluíram que não se tratava de um cemitério, mas de um massacre em grande escala ou de uma batalha épica, onde centenas de indivíduos enfrentaram um fim trágico.
A Idade do Ferro na Europa do Norte foi um período marcado por violência e caos. Enquanto o Império Romano tentava expandir suas fronteiras, chegando ao rio Elba, tribos germânicas e escandinavas defendiam ferozmente seus territórios. Um dos episódios mais famosos dessa resistência foi a Batalha da Floresta de Teutoburgo, onde guerreiros germânicos dizimaram três legiões romanas.
Os germânicos eram descritos pelos romanos como homens altos, de cabelos ruivos e olhos azuis, que gritavam e usavam escudos para amplificar suas vozes antes das batalhas, criando uma atmosfera aterrorizante para os inimigos. O historiador romano Tácito chegou a comentar que uma das vantagens para Roma era a tendência dos povos germânicos de lutarem entre si, evitando que unissem forças contra os romanos.
“Que as nações estrangeiras persistam, senão em nos amar, ao menos em se odiar mutuamente”, escreveu o pesquisador. Isso pode explicar o massacre em Alken Enge, onde armas e artefatos encontrados indicam que as duas forças em conflito eram locais, vindas da própria península de Jutlândia ou de ilhas próximas, sem qualquer presença romana no local.
Apesar da brutalidade da batalha, o mistério mais perturbador reside no que aconteceu depois. Em vez de enterrar os mortos no local do confronto, os corpos foram deixados ao ar livre, expostos aos animais, e só depois levados ao lago de Alken Enge. Após meses, ou até um ano, alguém reuniu os esqueletos, retirou o que restava de carne e ligamentos e depositou os ossos no lago.
Segundo pesquisadores, essa prática pode estar ligada a rituais sagrados comuns na época, em que oferendas, como armas, animais e até pessoas, eram depositadas em pântanos e lagos considerados portais para o mundo dos deuses. Esses restos mortais, porém, não eram de guerreiros experientes. A análise dos ossos mostra que a maioria dos mortos tinha entre 20 e 40 anos, com alguns tão jovens quanto 13.
Os esqueletos não possuíam ferimentos cicatrizados, típicos de combatentes veteranos, indicando que eles provavelmente eram novos na batalha. Em vida, lutaram por suas tribos e líderes, mas, na morte, podem ter se tornado troféus e sacrifícios aos deuses de seus inimigos. O lago de Alken Enge, hoje, guarda essa história enigmática — uma lembrança sombria de um exército que encontrou um fim misterioso e brutal, cujos ossos repousam como testemunhas silenciosas de uma guerra esquecida.