Artes/cultura
05/11/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 05/11/2024 às 06:00
O que é mais assustador do que uma história de vampiro de Bram Stoker, o criador de Drácula? Certamente, o farmacêutico e historiador amador Brian Cleary passou por uma experiência na vida real ainda mais eletrizante do que encontrar com o Príncipe das Trevas.
Sentado na Biblioteca Nacional da Irlanda no dia 12 de outubro de 2023, e se recuperando de uma cirurgia de reparação de perda auditiva neurossensorial repentina, ele se deparou com um conto perdido há muito tempo de Bram Stoker. A história, publicada em um suplemento de Natal do Dublin Daily Express em 1890, não havia sido documentada até hoje.
Sem saber o que fazer com a descoberta, Cleary entrou em contato com Paul Murray, possivelmente a maior autoridade mundial em Bram Stoker e autor de From the shadow of Dracula: a life of Bram Stoker. O biógrafo confirmou que a história era autêntica, e se alegrou com o fato de o conto "Gibbet Hill" ser revelado ao público, após um século no anonimato.
Gibbet Hill foi publicado no jornal sete anos antes de Drácula, e seu estilo de realismo documental pode ter servido como base para o enredo sombrio e envolvente da história do Príncipe de Valáquia. Assim como no Drácula, o conto do escritor irlandês viaja no seu costumeiro conflito entre o bem e o mal por meio de elementos bizarros, diz Murray.
O biógrafo explica que a narrativa se passa no condado de Surrey, no sul de Londres, onde já no início do conto três criminosos são enforcados pelo assassinato de um marinheiro. Um narrador anônimo encontra por acaso três crianças esquisitas perto do túmulo da vítima, e passa por um "ritual transformador".
Além da importância histórica e cultural, o conto recém-descoberto foi uma das principais atrações do Bram Stoker Festival, realizado em Dublin de 25 a 28 de outubro. No dia 26, foi realizada a leitura pública de "Gibbet Hill", na Sala dos Pilares do Rotunda Hospital.
Foi feito também o lançamento do livro, com ilustrações do artista irlandês Paul McKinley, cujos lucros serão destinados ao Charlotte Stoker Fund, que apoia pesquisas de surdez em recém-nascidos.
A escolha da instituição não foi por acaso. Charlotte era a mãe de Bram Stoker, e a referência à perda auditiva está relacionada à experiência de Cleary, que havia perdido a audição em um ouvido e estava se adaptando com o implante coclear. Foram esses momentos de som e silêncio que o levaram a passar mais tempo na biblioteca.