Ciência
08/03/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 08/03/2024 às 14:00
A cada quatro anos, nós temos em nosso calendário a ocorrência de um ano bissexto, com a adição de um dia no mês de fevereiro — assim como observado neste ano de 2024. Mas você sabia que essa adaptação presente no calendário moderno, na verdade, é bastante antiga?
Não é surpresa que os antigos egípcios tinham uma relação bastante próxima com o Rio Nilo. E para que essa descoberta envolvendo a duração total do ano ocorresse, eles tiveram de recorrer à observação nas alterações da cheia do rio e do aparecimento da estrela Sirius no solstício.
Tudo isso porque, naquela região do planeta, esse astro não fica visível durante 70 dias. E após esse período, ele volta a aparecer logo que amanhece. Esse "reaparecimento" de Sirius no solstício, então, serviu de marco. Assim, ao analisar o período que levava para a estrela reaparecer nos anos seguintes, foi constatada a necessidade de incluir um quarto de ano de alguma maneira.
Isso considerando, é claro, o problema que se formaria no caso de não haver um ajuste no longo prazo. Embora os egípcios julgassem estar sincronizados com o sol e utilizassem o calendário de 365 dias, com a adição de mais um dia a cada quatro anos, seria possível manter-se, portanto, mais alinhado com o movimento de translação da Terra.
Dada a necessidade constatada naquele período, o Decreto de Canopus fornece a primeira evidência da adoção do ano bissexto entre os egípcios. Escrito em hieróglifos e com tradução para o grego, esse texto disposto numa placa de pedra mostra como essa antiga civilização estava ciente da necessidade de incluir um ano bissexto há nada menos que 2.262 anos.
O Decreto de Canopus apresenta claras instruções que dizem respeito ao calendário, evidenciando o expressivo conhecimento que os egípcios tinham sobre a astronomia. A inserção do ano bissexto, conforme o próprio texto aponta, visava evitar que o calendário ficasse em desacordo com a respectiva estação do ano.
Esse antigo registro foi encontrado em 1866 quando alemães visitavam a cidade de Tanis. Fruto da iniciativa do Faraó Ptolomeu III que, além de abordar outros assuntos, como impostos e a manutenção da paz, estabelece que esse novo dia seria celebrado com um grande festival para honrar aos deuses.
Nessa tentativa de promover a alteração no calendário, o Decreto de Canopus teve várias cópias espalhadas durante a antiguidade, e algumas delas se preservaram até os tempos atuais. A encontrada na cidade de Tanis, mencionada anteriormente, está no Museu Egípcio do Cairo.
Mas também há um detalhe curioso: apesar desse trabalho, a instrução de Ptolomeu III não perdurou e o novo calendário proposto não foi levado adiante, por motivos que desconhecemos atualmente.
Isso foi constatado quando ocorreu a invasão dos romanos ao Egito, em 30 a.C., e o calendário vigente nesse período era, novamente, o de 365 dias. Foi questão de tempo para o Imperador Augusto, sucessor de Júlio César, impor a vigência do calendário juliano e restabelecer o ano bissexto no Egito.