Ciência
08/06/2024 às 18:00•3 min de leituraAtualizado em 08/06/2024 às 18:00
Sabe aquela cadeira branca de plástico com encosto largo, na qual certamente você já sentou em um bar ou durante um churrasco? Talvez você nem imagine, mas essa cadeira é uma peça de design extremamente popular, que pode ser encontrada em qualquer parte do mundo.
Essa criação, inclusive, tem nome: é a Monobloc, uma cadeira leve e empilhável de polipropileno que geralmente é produzida na cor branca. Hoje, ela é a cadeira mais famosa que existe.
O nome da Monobloc vem de mono (um) e bloco, e foi dado porque ela foi criada em uma única peça. Ou seja: a cadeira é fundida sem nenhum encaixe. Ela foi projetada pela primeira vez pelo canadense DC Simpson em 1946, mas entrou em produção a partir dos anos 1970 pelos grupos Allibert e Grosfillex.
Já em 1972, o engenheiro francês Henry Massonnet se inspirou nas primeiras cadeiras para criar o design da Fauteuil 300, que é hoje considerada o arquétipo da cadeira de plástico barata. Massonnet conseguiu melhorar a eficiência do processo de fabricação, reduzindo a duração de todo o ciclo de produção para menos de dois minutos. Assim, a partir da década de 1980, mais empresas passaram a fabricar modelos semelhantes para colocar no mercado.
Mas há um detalhe curioso aqui: nenhuma patente foi registrada para o design da cadeira. Isso possibilitou que ela fosse reproduzida milhões de vezes por fabricantes do mundo todo. Outra coisa que fez com que ela se popularizasse é o seu método de produção.
A Monobloc é moldada por injeção de termoplástico com uma peça única. O material mais usado é o polipropileno termoplástico, feito por grânulos aquecidos a aproximadamente 220 °C que são injetados em um molde. Isso torna a cadeira barata para ser produzida e vendida, uma vez que sua fabricação também é rápida.
A Monobloc é muito comum em toda a Europa e nas Américas – e, claro, bem popular aqui no Brasil. Embora seja fabricada em vários modelos e estilos, ela tem em média 2,5 kg, e tem a vantagem de poder ser empilhada, facilitando o armazenamento de várias cadeiras.
Por incrível que pareça, a Monobloc é tão conhecida que ganhou até uma exposição em 2017 no Vitra Design Museum, na Alemanha. A mostra "Monobloc – A Chair for the World" contou a história do objeto e celebrou essa que foi chamada de "exemplo por excelência de um produto de consumo de massa", ressaltando que ela "pode ser encontrada onde quer que haja necessidade de assentos baratos – seja em jardins europeus, cafés africanos ou restaurantes asiáticos".
Contudo, a Monobloc é também uma peça polêmica. Alguns teóricos, como o professor Ethan Zuckerman, já descreveram a cadeira como causadora de efeitos positivos e negativos no design e na sociedade de consumo. Por ter uma natureza extremamente homogênea, Zuckerman apontou a Monobloc como uma "cadeira perturbadora" e "o verdadeiro mal da globalização".
Em seu blog, Zuckerman expressou: "não tenho fortes sentimentos sobre se a Monobloc é um objeto de beleza ou um alvo de escárnio. O que me intriga é a ideia de que a Monobloc é um objeto livre de contexto", discorrendo sobre a dificuldade de identificação sobre o "cenário" ao qual a cadeira pertence. "A Monobloc é um dos poucos objetos que consigo pensar que está livre de qualquer contexto específico. Ver uma cadeira de plástico branca em uma fotografia não oferece nenhuma pista sobre onde ou quando você está. Tenho dificuldade em pensar em outros objetos que sejam igualmente independentes do contexto", escreveu.
A análise feita pelos críticos e pelos estudiosos de design afirma que a cadeira Monobloc, na verdade, é um objeto cercado de ambivalência sobre a sociedade de consumo atual. Isso porque esta cadeira de plástico se tornou um verdadeiro símbolo de uma peça de mobiliário acessível – e, portanto, é absolutamente democrática. Por outro lado, ela não é exatamente sustentável (uma vez que é de plástico), e também ilustra claramente o consumo de massa em produtos uniformes.
Há planos para que a cadeira Monobloc passe a ser produzida de maneira mais ecológica, fazendo jus às demandas atuais por práticas mais sustentáveis ao planeta. É o que defende o designer egípcio Karim Rashid, um dos grandes nomes na área que trabalham prioritariamente com plástico.
"Há uma grande esperança em plásticos biodegradáveis, plásticos 100% reciclados, plásticos derivados da cana-de-açúcar, de origem vegetal e de outras fontes renováveis (curiosamente, estes foram utilizados na produção de plásticos no início dos anos 1900). Novas pesquisas e tecnologias podem continuar a moldar um mundo progressista de materiais plásticos, mas com resultados ambientalmente responsáveis e sustentáveis", ele declarou à CNN.