Ciência
09/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 09/10/2024 às 15:00
Aqui no Brasil, chamamos de natureza morta um tipo de pintura em que se representam seres e objetos inanimados, como comida, o que inclui frutas, pães e outros tipos de alimentos.
Pode parecer difícil de acreditar, mas essas obras que retratam comida são um clássico dentro da arte. E por que será que gostamos tanto de ver imagens de alimentos?
Para entender isso, é preciso voltar à época do Renascimento, quando os artistas europeus resolveram inovar: ao invés de criar obras religiosas para os seus clientes, alguns deles propuseram fazer retratos de natureza morta, com quadros que mostravam flores, livros ou objetos domésticos e, frequentemente, comida.
Isso era uma verdadeira novidade, e agradou muito, já que a comida era um tema bom, por ser carregada de simbolismo. As imagens de frutas se decompondo aos poucos ou de uma caça abatida eram encaradas como um retrato da efemeridade da vida. Já a comida farta ajudava a conotar o sentido da riqueza e da sofisticação.
Além disso, os pintores começaram a encarar a pintura de alimentos como uma forma de exercer suas habilidades de observação e treinar sua destreza em pintar pequenos detalhes. Mas, além de ser interessante para os artistas, elas também foram entendidas pelo público como divertidas de se olhar.
Durante o século 18, um pintor americano chamado Raphaelle Peale se tornou o primeiro a explorar profissionalmente esse gênero. Ele foi influenciado por pinturas que viu durante uma viagem no México, além das obras do espanhol Juan Sanchez Cotan.
Mas o hábito de colocar cenas com comida e com jantar em suas salas sempre existiu. Um dos exemplos mais famosos é o quadro A Última Ceia, que Leonardo da Vinci terminou de pintar em 1498. O que nem todo mundo sabe é que esse quadro não foi feito em uma tela. Na verdade, é um mural feito por encomenda pelo duque de Milão, Ludovico Sforza, para decorar o Convento de Santa Maria delle Grazie.
Embora a obra não tenha sido originalmente destinada a decorar uma sala de jantar (ela ocupou um refeitório no convento), as imagens icônicas da Última Ceia de Cristo se tornaram extremamente comuns na época.
Séculos depois, o pintor espanhol Francisco de Goya elaborou o quadro Saturno Devorando um Filho, que mostra o deus Cronos como um gigante roendo o braço de um cadáver sem cabeça. Por mais curioso que possa se parecer, as reproduções dessa pintura também costumam ser usadas em salas de jantar.
Já na arte culinária moderna, um nome já clássico é o do pintor americano Wayne Thiebaud, que faleceu em 2021. Ele registrou bolos, tortas e sorvetes com um certo toque nostálgico que lhe trouxe muitos fãs.
Suas obras foram parar em museus e fizeram sucesso por sua característica onírica, estimulando boas sensações no público. De acordo com Scott A. Shields, autor do livro Wayne Thiebaud 100: Paintings, Prints, and Drawings, o artista pintava a partir da memória, sem olhar para objetos concretos, de forma intuitiva. “Ele disse: 'eu realmente não comecei a pintar tortas. Comecei a pintar um triângulo em um círculo e, de repente, tinha um pedaço de torta em um prato.' Então, ele estava realmente experimentando como fazer formas básicas funcionarem juntas", contou.
Para Shields, a arte gastronômica sempre encantou as pessoas, não importa qual fosse a época. "Uma coisa com a qual todos podemos concordar é que todos nós conhecemos e gostamos de comida", finaliza.