Artes/cultura
13/06/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 13/06/2024 às 12:00
No Brasil, o Dia dos Namorados é comemorado em 12 de junho, uma data marcada por trocas de presentes, jantares românticos e muita celebração entre casais apaixonados. Curiosamente, enquanto o mundo celebra o amor no Dia de São Valentim, em 14 de fevereiro, a versão brasileira dessa data carrega uma contradição histórica fascinante: é também o dia de Santo Onofre, o padroeiro dos solitários.
O Dia dos Namorados brasileiro, criado em 1949 pelo publicitário João Doria a pedido da Associação Comercial de São Paulo, foi uma estratégia para aquecer as vendas no mês de junho, tradicionalmente mais fraco para o comércio. A data foi colocada na véspera do dia de Santo Antônio, o popular santo casamenteiro, numa tentativa de associar o namoro ao prelúdio do casamento.
No entanto, essa escolha acabou inadvertidamente se sobrepondo ao dia de Santo Onofre, um santo que viveu uma vida diametralmente oposta ao espírito do Dia dos Namorados.
Santo Onofre, cuja memória é celebrada em 12 de junho, foi um eremita que viveu no deserto da Tebaida, no Egito, por cerca de 60 anos, sem contato com qualquer outra pessoa. Sua vida de isolamento extremo, dedicada à castidade e à meditação, foi registrada por São Pafúncio, um abade que o encontrou no deserto.
Onofre é descrito como um homem de longa barba e cabelos, vestido apenas com folhas, vivendo numa gruta e se alimentando de tâmaras e do pouco que a natureza lhe oferecia.
A história de Santo Onofre se torna ainda mais intrigante quando se considera a devoção popular que se formou em torno de sua figura. Embora não existam provas concretas de sua existência além dos relatos de Pafúncio e sua inscrição no Martirológio Romano, Onofre se tornou um símbolo de fé e resistência espiritual.
Ele é venerado tanto na Igreja Católica quanto nas Igrejas Orientais, e sua figura foi trazida ao Brasil pelos colonizadores, integrando-se à religiosidade popular através do sincretismo.
A dualidade do Dia dos Namorados no Brasil, que celebra o amor romântico e, ao mesmo tempo, homenageia o padroeiro dos solitários, oferece uma perspectiva interessante sobre a diversidade da devoção e da experiência humana.
Enquanto os casais comemoram sua união, aqueles que estão solteiros, por escolha ou circunstância, também têm um motivo para celebrar em Santo Onofre. Ele representa a busca solitária por um propósito maior, a resistência às tentações mundanas e a conexão espiritual profunda.
Essa peculiaridade histórica reflete uma lógica interessante apontada pelo historiador Luiz Antônio Simas em entrevista à BBC. Segundo ele, o Dia dos Namorados no Brasil nunca poderia ser associado a São Valentim devido à falta de popularidade do santo no país e à incompatibilidade sazonal com o hemisfério norte.
Além disso, o mês de junho precisava de um incentivo comercial, e a ligação com Santo Antônio foi uma jogada estratégica, embora desavisada quanto à coincidência com Santo Onofre.
Portanto, se você está solteiro no Dia dos Namorados, lembre-se de que essa data também é sua. Santo Onofre, com sua vida dedicada à solidão e à meditação, nos lembra que há valor e propósito na jornada individual.