Artes/cultura
13/11/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 13/11/2024 às 18:00
Nós, seres humanos, sempre fomos muito preocupados com a morte e com o que acontece no além vida. E tudo isso diz respeito também com o que fazemos como os corpos de nossos entes queridos. Mas nossa visão sobre este processo foi mudando ao longo do tempo.
Nem sempre os humanos partiram da ideia de que deveriam enterrar seus mortos. Entre os seguidores de uma religião monoteísta chamada Zoroastrismo, houve o hábito estranho da construção de Torres do Silêncio, um lugar onde os cadáveres eram colocados de forma que os pássaros carnívoros pudessem se alimentar deles.
Dentro das práticas religiosas, costuma-se entender que os ritos funerários têm como fim a purificação do corpo, e que, sem elas, um cadáver fica vulnerável à contaminação por demônios ou espíritos malignos.
Por conta disso, os zoroastras inventaram um sistema: começaram a levar os mortos para lugares conhecidas como dakhmas, para que seus corpos pudessem ser expostos aos elementos sobrenaturais e aos animais alados que são necrófagos.
E isso acontecia bem mais rápido do que podemos imaginar. Segundo um estudo feito com restos humanos pelo Forensic Anthropology Research Facility, no Texas, os abutres podem esqueletizar um cadáver em apenas cinco horas.
Deste modo, as chamadas Torres de Silêncio construídas pelos zoroastras buscavam evitar as consequências negativas dos enterros modernos, que hoje ocupam um espaço de cerca de 404.685 hectares de terra nos Estados Unidos. Isso sem contar com a madeira usada para a produção de caixões e os líquidos utilizados para o embalsamento que podem contaminar o solo.
De acordo com o jornal The Guardian, a prática das Torres de Silêncio datam de pelo menos 3 mil anos. Houve um tempo em que essas torres poderiam ser encontradas em vários lugares do mundo. Elas existiam porque os zoroastrianos ortodoxos viam a ideia de sepultamento como algo tão abominável que era considerada uma forma de punição para as pessoas más, já que as almas passariam a eternidade no submundo, ao invés de ascender ao céu.
As comunidades zoroastrianas existem até hoje, mas o número dessas torres caiu muito porque a prática foi proibida em algumas partes do mundo. Soma-se a isso também a queda do número de abutres. De acordo com o livro Encyclopædia Iranica, “devido ao rápido crescimento da área metropolitana de Carachi (a mais populosa do Paquistão), não há abutres há 25 anos. Os corpos secam rapidamente no sol quente de Sindh, mas não são despidos de suas peles e enchem as torres, cujo fosso não consegue lidar com seus corpos".
Para os ocidentais, o hábito de construir as Torres de Silêncio pode ser chocante. Mas historiadores e ecologistas podem argumentar que os dakhmas eram bem melhores para o planeta e envolviam um ato final de caridade, pois a carne dos mortos alimentaria os abutres que os auxiliariam na transição da alma para o céu.