Ciência
14/11/2019 às 13:00•2 min de leitura
Esta história, baseada em um artigo publicado no Journal of Hymenoptera Research, parece mais um filme apocalíptico: em 2013, mais de um milhão de formigas canibais escaparam de um bunker nuclear soviético após anos de isolamento.
O fato ocorreu numa região ocidental da Polônia, quando uma equipe de biólogos, liderada pelo polonês Wojciech Czechowski, encontrou por acaso uma gigantesca população de formigas-da-madeira aprisionadas dentro de uma fortaleza da década de 1960, antigo abrigo de armas nucleares soviéticas.
Centenas de milhares daqueles insetos simplesmente deram o azar de, saindo dos limites do seu formigueiro, serem sugados por um sistema de ventilação que os aprisionou numa câmara selada, na mais completa escuridão e sem nenhum acesso a qualquer fonte de alimentação
Intrigados, os cientistas passaram então a observar aquele colônia isolada do resto do mundo. A princípio perceberam que, como a tubulação se abria exatamente no meio do teto, era humanamente, aliás, formigamente impossível retornar à superfície.
E as formigas fizeram a única coisa que se poderia esperar de uma sociedade complexa e funcional: começaram a trabalhar e se organizar para sobreviver.
Dois anos depois, os cientistas retornaram ao local e se surpreenderam com uma colônia mais próspera do que a anterior, com uma população de quase um milhão de formigas.
Logicamente a explicação para o crescimento era que o sistema de ventilação continuava mantendo altas as taxas de crescimento demográfico mesmo que as condições reprodutivas não fossem lá essas coisas. Porém, o que deixou os cientistas curiosos foi: como a população da colônia conseguiu sobreviver sem qualquer acesso a fontes de comida?
A resposta, revelada pela leitura de um novo artigo científico, publicado no último dia 31 de outubro, é: canibalismo!
Na verdade, em 2016 o bunker estava recoberto com quase dois milhões de formigas mortas. Pelas regras de funcionamento das colônias, essas carcaças são empilhadas em montes de lixo chamados “cemitérios” com centenas de cadáveres. Desses montes, a equipe de pesquisadores coletou cerca de 150 corpos e os analisou em busca de sinais de canibalismo. Eles acharam orifícios roídos e marcas de mordidas em 93% das amostras.
Felizmente, as formigas não tiveram que continuar com seus rituais cabalísticos. Os cientistas instalaram uma rota de fuga: uma escada de madeira de 3 metros de comprimento que permitia aos habitantes da colônia subir até o duto de ventilação e alcançar o exterior.